E agora?

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Na nossa tradição católica, a resposta mais popular a qualquer dúvida é recorrer ao Deus criador, explicando tudo o que não se entende e espalhando doses relativas de piedade. Diz-se que há universo porque Deus o fez e que somos pobres, mas honestos… Até Ventura, que sabe que Deus não tem causa, lhe agradece “por o país ter acordado”… Dá-lhe graças porque, sendo arrogante e cínico, sabe que o povo é fácil de enganar. Com muita pena, tenho constatado que mais de três milhões de eleitores ativos acham que a esquerda, à esquerda do PS, é “igual” ao Chega. Que o Bloco e o PCP fazem parte da extrema esquerda popular. Que são iguais ao chega, não porque defendem o racismo, a xenofobia, o afrontamento, o crime fiscal, a corrupção e as portas giratórias (ver programa eleitoral do Chega), mas porque defendem todas as causas fraturantes, tal como a defesa da igualdade entre as mulheres e os homens, os direitos dos LGBT, a liberdade dos trabalhadores, a despenalização das drogas leves, a eutanásia, a paz dos reformados; a tranquilidade social. Ao contrário do voto no Bloco, o voto no Chega sairá caro a todxs nós pois, caso seja força de governo, teremos um serviço nacional de saúde privatizado, uma segurança social descapitalizada num fundo de investimento especulativo qualquer, pleno de riscos associados, e o desbaratamento dos fundos europeus. Tudo isto e muito mais e no curto prazo! Basta ouvir as pressões dos partidos da extrema direita no Parlamento Europeu para perceber onde isto poderá parar. Esta gente que vota Chega, também é constituída pelos “salazarengos”; por certa malta que conheço bem. Muitos, sendo funcionários públicos, sofrem por trabalhar em prol dos outros. Pior; quando são pobres de espírito, são maus! São racistas. Muitos idolatram a caça, outros a tourada, a raça, a crença e o mal dizer. Pior do que tudo: têm raiva por causa do Estado Social. Sofrem por causa do socialismo, por aversão ao 25 de Abril de 74! Odeiam graças figuras do PCP e todos os Heróis que lutaram contra o fascismo, gente que lhes ofereceu liberdade para crescer. Após as eleições presidenciais, o cenário nacional ficou ainda mais obscuro. Em Viseu, o único distrito português com um enclave, a direita ganhou com 80,43% dos votos (100.538 votos) e o Tino de Rãs ficou à frente de Marisa Matias e João Ferreira, conseguindo 4.553 votos. Resta-nos esperar que os portugueses despertem para lutar contra esta rebaldaria. Contra um poder que nos poderá sair muito caro. Para já, antes das eleições legislativas, teremos o desafio autárquico. Até outubro de 2021, das duas uma: ou os partidos da esquerda se unem para responder à crise, uma vez por todas, apoiando quem precisa; dotando o Estado de leis anticorrupção (mais justiça) e de programas contra o medo e o desemprego ou estaremos ainda mais tramados. É por isso que Louçã tem razão, ao escrever que nada ficou na mesma, que o que vai contar quando se fizerem as contas será «a sensação de urgência e a resposta consistente de partidos que provem que sabem do que falam, que não se deixam iludir pelo imediatismo, que avançam propostas realizáveis e irrecusáveis no essencial da vida das vítimas da pandemia».

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Nasceu e cresceu em Viseu, no seio de uma família com fortes raízes na cidade. Vive em Lisboa desde 2007 e desenvolve o seu trabalho como empresário em nome individual. É dirigente associativo desde muito novo, estando ligado à política, ao desporto e à economia.

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