Todos nascemos para ser poetas, já dizia Agostinho da Silva. Mas um poeta sem dinheiro é uma tristeza, nem pode editar os livros numa editora que o vai enganar, como naqueles acordos com muitas cláusulas; e ele já sabe, foi enganado e vai mendigar para lhe comprarem o livro. Como era bom que alguém vingasse os poetas deste mundo. Por favor, se não lhe fizer falta. Não sei o que pensas do espectro de desastre que ronda a casa de Burns. Se os poetas devem fazer edições por vaidade, ou se devem antes comer posta à mirandesa pelo menos uma vez por mês, fazer jejum ou ser vegano e ser enfaticamente sentimentalistas, as mulheres gostam e os homens riem – de braços cruzados faz cócegas nos pulmões masculinos. É uma espécie de síndrome irritável do humorismo.
Espero que encontrem donativos para reparar a casa do Burns. Se fosse em Portugal, os putativos herdeiros nunca se entenderiam, até chegar a hora em que já não haveria mais herdeiros. Como a casa pertence a uma associação, a coisa vai-se resolver. Gente evoluída na Escócia! Esta Europa está fodida mesmo assim. A família do Burns, que teve tantos descendentes legítimos e ilegítimos, não poderia resolver o problema do colmo? Mandar um cheque da América? Não pensaram no futuro, podiam ter estabelecido um fundo, ou uma fundação, mas não, pensavam primeiramente em como obter uma refeição e ter sapatos, e no carvão, ai o carvão! – hoje faz frio, não sabem!? Eu também gostaria de ser tutelado por uma associação que representasse a minha imortalidade. De resto eu cá me arranjo, refeições, sapatos; carvão não, que agora estamos todos ecologistas e as janelas têm vidro triplo.
Quando observo no cinzeiro a história que vos relato, sinto até arrepios. O telhado de colmo ficou lá, esperando por umas mãos habilidosas, as minhas mãos, ou as mãos de uma criança espontânea com medo de alturas, sem conhecer a funcionalidade e a razão das coisas, numa época em que os cereais são secos em unidades industriais, algum, como o trigo dos Estados Unidos da América, é pulverizado com herbicida para secar uniformemente, mas o contraponto é que os miúdos ficam com intolerâncias alimentares, e quem sabe, mais tarde, cancro. O mercado não perdoa, os preços desvalorizam ao final da primeira semana de colheita. Agora o colmo também é raro encontrar; se acreditarmos em milagres talvez apareça. Estamos a ficar mais ecológicos, não é? E esta história começou com um telhado de colmo em Agarez, que se irmanou no telhado de colmo de um palheiro algo quixotesco, exposto aos elementos em Portugal, e na necessidade de fazer filhos na Europa, que vai poluir e largar poluições nos mares da Caraíbas, sorrindo para outros seres humanos que vivem não sei com tão poucos dólares por dia. Alforrecas de preservativos explodem e exterminam a pesca dos caribenhos. Fernando Pessoa dizia que tudo era pastelaria, porque estava longe de imaginar o mar salgado com micro plásticos, esferovite; todo o tipo de imundices a serem comidas pelos peixes e a entrar na cadeia alimentar.