José Dias Pires publica “Ping Plop: A gota de orvalho que queria ser pingo de chuva”

Foto de Agrupamento Afonso de Paiva | Facebook
Gosto muito de livros para crianças. As suas ficções pedagógicas – com valências poéticas, teatrais e plásticas – acrescentam pontos às histórias que contam suscitando mais e mais imaginação. É uma atividade socialmente pouco estimulada, esta de entrar nos territórios da infância com fundações na sua respiração e nos seus imaginários.

José Dias Pires, que fez a vida como professor em todos os graus de ensino de Castelo Branco, tem vários livros para crianças e acaba de publicar “Ping Plop: “A Gota de Orvalho Que Queria Ser Pingo de Chuva”.

“Tudo começa com uma gota de orvalho” que segue a sua vida pelos caminhos do ciclo da água; uma história que o autor pretende que “possa acabar com uma lágrima de alegria”. Gota de orvalho que, relembro, resulta da condensação de vapor de água em contacto com algumas superfícies muito frias.

A gota “Ping Plop” “não queria dar-se ao trabalho de pingar da folha verde porque sabia que não iria voltar.” Mas, tem a vontade maior de se juntar a outras gotas e ser regato que “corria para ser rio, junto à floresta da folha de árvore onde a pequena gota de orvalho dormia.” E assim fez: pingou e iniciou a sua viagem “irrequieta” de água “que queria ser rio no rio que queria chegar além-rio”. Queria ser mar que “sonhava ser nuvem, farta de ser ave” e apetecia-lhe “ser chuva uma chuva suave que enchesse a barragem”. Por exemplo, a de Santa Águeda, como lhe chamam na Póvoa de Rio de Moinhos; ou da Marateca nas bandas da Lardosa. Para “chegar, por fim, de forma segura, ao copo de água, cristalina e pura, na tua mão.” Oxalá, digo eu, que as gotas que nos chegarão possuam as qualidades que o autor garante existirem na sua “Ping Plop”.

De folha em folha, vou parando e saboreando a beleza das ilustrações de Ninai Freitas impressas neste livro editado pela Câmara Municipal de Castelo Branco e destinado a alimentar um projeto de educação ambiental para as escolas coordenado por José Pires.
Entre parêntesis, pergunto: porque não uma publicação para (as) outras idades?

Mas sigamos os caminhos da nossa “Ping Plop” que, de repente, acaba de sair dos nossos olhos de “quase transparente” para se perder de vista. “Sentiu que estava a voar”. Segredos da evaporação: deixou de ser gota, mas continua água, agora invisível. Por cima, pinta a ilustradora, o sol, uma humilde nuvem branca e uma outra carregada de cinzento a pingar frutos de gotículas para a terra sequiosa – como ainda está agora e não preciso de lembrar como esteve e continua a estar o Tejo e os seus afluentes. Ah, ao lado da gota “Ping Plop”, uma abelha esvoaça risonha por cima de um pomar de flores que despertam para ela.

Seguem-se “belas histórias de encantar” com “o sorriso das nuvens de chover” que elas contam. E com os coelhos e os cisnes que as nuvens às vezes desenham e a ilustração fixa. A narrativa passa pelo Lago do Bom Caminho e pelo Armazém da Saúde “para poder ser servida a quem a quiser usar, vai ser muito bem tratada (…) sem qualquer cor e sabor.”

E pronto, não tendo mais espaço, fica o desejo de virem a saborear este livro não deixando de convocar netos e filhos para a leitura que aqui vos resumo muito resumidinhamente. Leiam e refaçam. Contem à vossa maneira e à maneira inventiva, imaginativa, surrealista das crianças e que vamos perdendo à medida que nos representamos como adultos.

Outros artigos deste autor >

Nasce em Castelo Branco em 1944. Em 1961 vai estudar Físico-Químicas para a Universidade de Coimbra onde com a crise e a repressão académicas nasce a sua consciência política. No ano de 1969 integra os quadros do Serviço Meteorológico Nacional. Mobilizado para a Guiné Bissau, consegue no entanto ser destacado para Timor-Leste, onde permanece entre 1973 e 1974 a chefiar o Serviço Meteorolóqico.
Em 1984 passa a ser um dos rostos da informação meteorológica na RTP, e dez anos mais tarde da TVI, onde permanece até 1998. Regressa à sua cidade natal em 2002 para tentar desenvolver um projeto-piloto de regionalização de atividades meteorológicas.
É autor dos livros “Mudam os Ventos Mudam os Tempos – Adagiário Popular Meteorológico” (1996), “Voltar a Timor” (1998), “Podia Ser de Outra Maneira (2000) e dos livros de poesia "Corpo Aberto" (2016) e "De muitos ventos e utopia" (2018).
Com um currículo extenso, podemos resumir a vida do “poeta do tempo” como: meteorologista e cidadão no tempo que lhe calhou nesta vida de entre duas noites.Em 1984 passa a ser um dos rostos da informação meteorológica na RTP, e dez anos mais tarde da TVI, onde permanece até 1998. Regressa à sua cidade natal em 2002.
É autor dos livros “Voltar a Timor” (1998), “Podia Ser de Outra Maneira (Imagem do Corpo)” (2000), e da antologia “Mudam os Ventos Mudam os Tempos – Adagiário Popular Meteorológico” (2002).
Com um currículo extenso, podemos resumir a vida do “poeta do tempo” como: meteorologista e cidadão no tempo que lhe calhou nesta vida de entre duas noites.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts
Ler Mais

Linguagem e preconceito – parte I

Foto por Katie Jowett on UnsplashA atribuição do estatuto de ciência à linguística deve-se, predominantemente, a Saussure1: a…
Skip to content