Será possível fazer investigação científica no interior do país, quer a nível das Universidades públicas, como dos institutos superiores Politécnicos? Tendo em conta a desertificação humana, a carência de meios e a fuga dos formados nestas instituições, quer para o litoral como para o estrangeiro, e tendo ainda em conta a ausência de infraestruturas tecnológicas significativas no interior, será mesmo possível congregar cientistas de peso nestas regiões e com uma ligação a redes científicas europeias e mundiais?
É preciso recordar que a verdadeira investigação não é feita a nível individual por um qualquer Einstein perdido nas serranias transmontanas ou beirãs, mas por grandes equipas dotadas de meios tecnológicos de ponta e com uma forte ligação a centros de investigação nos principais centros mundiais. Por isso, se bem que seja verdade existirem alguns centros de investigação bem classificados e Laboratórios Colaborativos no interior como é o caso de Bragança, Vila Real ou Évora, estes estão limitados a nichos muito específicos, ligados ao Ambiente ou às Ciências Agrárias. E mesmo aqui o espetro de atuação é muito limitado, como é o caso das cadeias agroalimentares, incluindo os bio-produtos, com ligação à indústria farmacêutica, ou a valorização de resíduos da indústria alimentar ou, ainda, sobre a fileira florestal, desde a investigação sobre os incêndios rurais aos aproveitamentos tecnológicos. Por muita capacitação que exista nestas áreas, e é deveras elevada, é sempre um trabalho de elevado pioneirismo sem uma ligação ao mundo empresarial na região, porque convenhamos, o tecido industrial é quase nulo nas áreas de baixa densidade.
Um aspeto paradigmático é a 3ª edição do Programa PROMOVE, atualmente ainda a decorrer. Este programa destinado à dinamização das regiões de fronteira do interior de Portugal engloba o apoio a projetos inovadores e estratégicos, em parceria com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Mas é lançado por uma Fundação privada _ a Fundação “la Caixa”, a maior fundação da Europa continental, e procura fomentar projetos-piloto que valorizem os recursos naturais e históricos do interior, mas mais uma vez dentro do capital natural, da floresta e da agricultura. Uns milhões para Projetos piloto que, quando termine o financiamento, se vão encolher de cientistas e oportunidades. Quando vier um novo balão de oxigénio voltarão a despertar, dentro dos eternos ciclos de nascer e morrer, ora atraindo doutorandos, ora afastando-os, o que não permite criar estruturas científicas minimamente estáveis. Note-se que a FCT em 2018 e 2019 lançou projetos para regiões específicas como Vale do Côa ou o Parque de Montesinho, suscitando elevado entusiasmo, mas que findará certamente ao fim dos 3 anos costumeiros de financiamento.
Note-se que nos países mais desenvolvidos se criaram estruturas tecnológicas e de investigação, start-ups e incubadoras de empresas nas áreas mais deprimidas que acabaram por constituir verdadeiros embriões de desenvolvimento. Foi uma estratégia política desses países em termos de “high-tech” e digitalização de modo a ancorarem companhias de dimensão e aumentar o empreendedorismo nessas regiões. A integração deve ser, contudo, de acordo com os padrões culturais e de sustentabilidade, em vez de indústrias, como as extrativas que, depois do ciclo produtivo e de delapidarem o capital natural, deixam um rasto de poluição e desertificação humana ainda maiores.
Professor Catedrático da UTAD e membro do Conselho Geral da Universidade. Doutorado em Ciências Florestais. Especialista na área dos Recursos Hídricos e Ecologia Aquática. Investigador do CITAB. Membro do Conselho Nacional da Água (em representação do Conselho de Reitores) e do Observatório Independente dos Fogos Rurais (nomeado pela Assembleia da República).