Pretende-se, com os transportes públicos, assegurar às populações um conjunto de viagens para as suas necessidades quotidianas. Estes transportes operam para servir as populações, em horários pré-definidos, com rotas delineadas, mediante o pagamento de um bilhete ou de um passe. Os serviços de transporte público são fornecidos tanto por empresas públicas como privadas, havendo ultimamente um predomínio das últimas.
Os transportes podem ser rodoviários ou ferroviários, sendo certo que no interior ainda não existe, infelizmente, uma ferrovia acessível à maioria das populações, o que, de facto, se lamenta, pois, o comboio é um excelente meio de transporte com grandes vantagens em termos de tempo, de conforto e de segurança. Tem ainda inequívocas vantagens em termos ambientais.
Quando ao transporte rodoviário, embora mais abrangente, ainda escasseia em muitas zonas do interior, ou quando existe está mal programado não sendo eficaz nos seus propósitos.
Pela importância das redes coletivas de transportes a sua organização e planeamento devem ser cuidadosamente preparados, quer nas cidades, quer nas vilas e aldeias. Devem ter em conta as reais necessidades das populações utentes.
Não falarei dos transportes urbanos que têm a sua especificidade própria, geradora dos seus próprios problemas, mas dos transportes em zonas rurais, mormente no interior do país.
A maioria dos serviços públicos essenciais ainda escasseiam no interior, e quando existem estão alocados na sede dos concelhos, pelo que impera a necessidade de uma rede de transportes eficaz e eficiente que ligue as aldeias entre si e a sede dos seus concelhos. Os habitantes das aldeias do nosso pais sofrem de um enorme isolamento, pelo que se lhes tirarmos os transportes tiramos-lhe tudo. Como poderão ir ao médico ou ao centro de saúde? Como poderão ir à feira ou ao mercado? Como poderão ir aos correios (se estes ainda existirem nos seus concelhos)?
Portanto, é urgente investir em transportes coletivos, aumentando as opções em termos de mobilidade para quem reside no interior do país.
De facto, não podemos aceitar que um cidadão do interior para se deslocar nas exigências do dia a dia tenha obrigatoriamente de ter carta de condução e de ter automóvel. Isto, além de ambientalmente prejudicial, acarretaria muitas despesas, nomeadamente de combustível, imposto automóvel, seguros, desgaste de pneus, reparações, entre outras. Constamos que esta, mesmo que má solução, não está disponível para uma grande parte da população empobrecida do interior.
Se é um facto que os autarcas e responsáveis políticos são tentados, alguns até obcecados, a investir em ampliações de estradas, criação de parques de estacionamento, rotundas, etc, não é menos facto, que estes raramente se preocupam com a rede de transporte que serve os seus munícipes.
É por isso urgente que as populações alertem a classe política para este importante assunto, trazendo-o para a ordem do dia.
As nossas populações, sobretudo as mais isoladas, devem ter mais transportes públicos, seguros, e distribuídos ao longo do dia, com horários abrangentes, devendo estes estar coordenados entre si, quer nos respetivos concelhos, quer como ponte de ligação a outros concelhos. Os transportes públicos devem existir sete dias na semana e não suprimidos aos fins de semana como muitas vezes ainda acontece. Estes devem estar adequados para transporte de crianças e com acesso adaptado para as pessoas portadoras de deficiência. É, igualmente, importante que os custos dos transportes sejam reduzidos, permitindo assim que a utilização seja possível a toda uma população muitas vezes envelhecida e com fracos recursos económicos.
Termino, referindo ainda um tema particular dos transportes públicos, que são os transportes escolares, que per si daria para uma reflexão individual e pormenorizada. Apesar de as autarquias estarem legalmente obrigadas à elaboração de um plano de transportes escolares, este quando existe é muitas vezes mal feito, não acautelando os legítimos direitos das crianças e jovens estudantes. Os autocarros são de péssima qualidade e os alunos têm de se levantar de madrugada e regressar já de noite às suas casas. Isto não pode continuar! A escola começa no exato momento em que o aluno entra no transporte escolar, o que deve ser feito em condições dignas e sempre acompanhado por técnicos educativos devidamente preparados para o efeito.
Mas deixo este assunto para outro dia…
Crónica de Hermínio Marques na Rádio Emissora das Beiras – 4 de dezembro de 2020
Professor, de 52 anos.
É natural de Carregal do Sal, onde reside e trabalha, sendo no momento docente do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal.