O “GUARDA-RIOS”

Guarda-rios
Guarda-rios

Olhando para o Rio Dão, reparei num pequeno pássaro, que fazia um voo rasante às suas belas águas. Mais tarde pousado, pude identificar as suas asas azuis e o seu peito e ventre cor-de-laranja. Cheguei a casa e quase instintivamente peguei no computador e fiz uma pesquisa rápida. Não levei muito tempo a identificar que se trata de um pássaro denominado “Guarda-rios” (Alcedo atthis). Pousa frequentemente em pequenos postes ou ramos secos, junto à água, a partir de onde pratica a caça à espera. Por ser uma ave tão colorida, é bem conhecida das populações, que por isso batizaram esta espécie com pelo menos vinte e cinco nomes diferentes. Eis alguns deles: chasco-de-rego, espreita-marés, freirinha, juiz-do-rio, martinho-pescador, passa-rios, pica-peixe, piçorelho, pisco-ribeiro, rei-do-mar. (in: http://www.avesdeportugal.info/alcatt.html). Deliciei-me na Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Guarda-rios) a ler as diversas caraterísticas desta tão singela ave.

Como em todas as pesquisas, o motor de busca apresenta outras entradas com o mesmo nome. Fiquei empolgado com a profissão de Guarda-Rios que houve em Portugal entre os séculos XVIII e o século XX. «Esta função estava afeta aos Serviços Hidráulicos de Portugal. As incumbências destes profissionais incluíam a salvaguarda e proteção dos cursos de água; a fiscalização da extração ilegal das areias dos rios; da pesca clandestina, épocas, espécies piscícolas e meios de pesca; vigiava as obras executadas no leito e ao longo das margens de todas as correntes de águas públicas ou na faixa jurisdicional de domínio público da orla marítima; controlava o corte de árvores e a fiscalização de eventos relativos a descargas de efluentes poluidores; exercia funções policiais, aplicando multas, previamente fixadas nos regulamentos; fazia o policiamento de áreas inundadas por correntes navegáveis ou flutuáveis ou avalia madeiras e terrenos do estado a vender ou a arrendar em hasta pública. Por vezes auxiliava as autoridades administrativas em assuntos de segurança pública ou prestava auxílio a particulares ou a outros guarda-rios, sempre de forma a impedir a destruição do leito dos rios, das suas margens, da fauna e da flora.» (in: https://www.csarmento.uminho.pt/archivave-profissao-de-guarda-rios-ou-cantoneiro/)

Esta profissão extinguiu-se, mas penso que seria muito importante que voltasse a existir. Infelizmente os nossos rios e ribeiras, nunca foram tão maltratados. No meu concelho, Carregal do Sal, vejo com muita tristeza e preocupação as recentes descargas na Ribeira de Travassos, em Beijós. Quem por lá passou e viu, fala de uma grande quantidade de espuma e um cheiro a produtos industriais.

Por isso arranjemos guardiões para os nossos rios e ribeiras, recuperando a profissão de Guarda-Rios. Enquanto isso, apenas podemos contar com o lindo “Guarda-rios” pássaro, que, estou certo, deixará cair uma lágrima nas suas coloridas penas, quando observa os seres humanos a danificar impunemente os seus rios…

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Professor, de 52 anos.
É natural de Carregal do Sal, onde reside e trabalha, sendo no momento docente do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal.

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