É certo que não é verdade que o ano letivo tenha começado da melhor forma, pois chegou coxo do último ano, com muitas aprendizagens para recuperar.
Não é verdade que as escolas sejam o lugar mais seguro do mundo em termos de pandemia, pois uma turma de trinta alunos, numa sala exígua, sentados perto uns dos outros, torna-se, em Portugal e em qualquer parte do mundo, um lugar privilegiado de contágio. Como é possível que tal aconteça? Por vezes, damos connosco a fazer o seguinte exercício. Se estes alunos saíssem da sala de aula e rumassem até um espaço comercial, quiçá maior que a própria sala de aulas, seriam barrados à porta, pois só são permitidos no máximo cinco clientes. Na sala de aula podem estar trinta!
Não é verdade que os alunos estejam em condições igualitárias na escola. Pois, se uma turma está a ter aulas normalmente, a outra do mesmo ano está em casa confinada em virtude de nesta terem surgido alunos infetados.
Não é verdade que as aulas presenciais, conforme estão, sejam iguais às que eram antes da pandemia, pois um professor está limitado nas suas ações pedagógicas: não pode solicitar aos alunos que escrevam no quadro, não pode fazer trabalhos de grupo com os estudantes, não pode interagir corretamente com estes que se encontram, e bem, de máscara.
Não é verdade que os alunos cumpram todas as regras de higiene e segurança, pois nos intervalos correm, saltam e abraçam-se. Nas aulas de Educação Física, sem máscara, voltam a abraçar-se para festejar a bola que a sua equipa encestou ou o golo que marcaram. Nos refeitórios e nos balneários potencializam-se comportamentos de risco.
Não é verdade que a motivação dos governantes sejam os legítimos interesses dos alunos, mas sim custo económico do encerramento das escolas, pois terão de ressarcir os pais dos alunos mais novos que terão de ficar em casa a tomar conta dos seus filhos.
Não é verdade que as escolas abertas tenham apenas repercussões nos alunos, nos professores e outros trabalhadores das escolas, de facto, pensemos então nos pais e encarregados de educação que diariamente levam os alunos para as escolas. Estes interrompem o propalado confinamento e saem diariamente, deslocando-se várias vezes ao dia para junto dos estabelecimentos de ensino. E a reunião dos alunos, nas imediações dos estabelecimentos de ensino, junto de cafés, parques ou jardins, onde são por vezes tentados a diminuir as medidas de contenção, por exemplo tirando a máscara.
Não é verdade que se tenha a certeza de que o número de casos de covid-19 nas escolas seja diminuto, pois não existe um esquema de testagem em massa na comunidade escolar. Parece que os governantes estão à espera, que as “evidências” apareçam, para poderem decidir.
Não é verdade que não existam aglomerações de alunos à porta das escolas, e não é verdade que os transportes escolares tenham condições de segurança e distanciamento. Os tempos de espera por estes transportes são por vezes elevados e mais uma vez se verifica a prejudicial junção de alunos.
Não é verdade que as escolas proporcionem um ambiente saudável e agradável de ensino aprendizagem, pois, salvo raras exceções, estas estão totalmente desprovidas de condições térmicas que deem conforto à comunidade escolar. Nestas condições, o processo de aprendizagem está comprometido.
É verdade sim, que o ensino presencial em situação normal é imprescindível, pois nada pode substituir a relação humana do professor com o seu aluno, mas, como diz o povo: «para grandes males, grandes remédios…» Por isso temos mesmo de, com muita angústia, encerrar as nossas escolas.
Professor, de 52 anos.
É natural de Carregal do Sal, onde reside e trabalha, sendo no momento docente do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal.