A pandemia da covid-19 trouxe-nos uma realidade distinta e complexa ao longo do último ano, juntando a crise económica e social à pandémica. Ainda não é tempo para balanços, mas já é tempo de perceber a melhor forma de prevenir um futuro que, como sempre, será mais destrutivo para com os mais fracos.
No que respeita à saúde, contam-se milhares de mortos na única realidade que não tem retrocesso, quase um milhão de infetados, milhares e milhares de pessoas que passaram pelas camas dos hospitais, seja em enfermaria ou em cuidados intensivos. Contamos com o esforço e dedicação dos profissionais de saúde, que muitas vezes, mesmo sem descanso, prestaram o melhor auxílio possível a todas as pessoas, o que ajudou a reduzir as fatalidades. Com esta pandemia percebeu-se, mesmo para quem andava distraído ou não queria perceber, que só o SNS garante e pode garantir um acesso à saúde universal que não deixa ninguém de fora. No SNS, os cuidados são prestados pelas necessidades dos pacientes e não pela carteira dos “clientes”.
No entanto, não estamos confrontados apenas com uma crise pandémica ímpar nas nossas vidas, estamos perante uma crise económica e uma crise social possivelmente sem paralelo. Economicamente, a queda abrupta na procura e na oferta fez ruir um tecido empresarial frágil, essencialmente nas micro e pequenas empresas, ao mesmo tempo que as que sobram estão a lutar diariamente pela sobrevivência. As áreas mais afetadas pela crise, como é o caso da restauração ou até mesmo do turismo, são em larga escala asseguradas por micro e pequenas empresas. Em Trás-os-Montes, região onde vivo, praticamente todo o pequeno comércio foi destruído ou está em vias de destruição. Logo na primeira vaga, muitos foram os cafés, restaurantes, pequenas lojas de roupa a fechar e nesta segunda e terceira vaga, infelizmente, os efeitos poderão ser ainda mais dramáticos.
Por outro lado, temos a crise social que se adensa a cada dia que passa, com o aumento de desempregados e com famílias a perderem todos os seus rendimentos. Mais uma vez, quem se encontrava já em situação de precariedade, é quem mais sente na pele a crise. As medidas para responder à crise por parte do Governo são escassas e deveriam ser alargadas a quem ficou sem qualquer rendimento, mas muito me preocupa o momento em que esses apoios possam acabar…Porque, de facto, a pandemia poderá terminar. Assim esperamos. Mas a crise social continuará a verificar-se e até mesmo agravar-se quando caminharmos para o fim da crise pandémica. É aí que também terão de ser concentrados todos os esforços para que ninguém fique esquecido, para que ninguém fique para trás.
Bem sei que ainda é cedo, é cedo para fazer balanços, é cedo para falar no final da pandemia, é cedo para falar sobre o drama futuro…mas a verdade é que se várias vezes a falta de planeamento causou constrangimentos, nada melhor do que andar adiantado nas hipóteses do que poderá vir a ser o amanhã.
Jóni Ledo, de 32 anos, é natural de Valtorno, concelho de Vila Flor. É licenciado em Psicologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, instituição onde também concluiu o Mestrado em Psicologia da Educação. Frequenta atualmente o 3ºano da Licenciatura em Economia na mesma instituição. Foi Deputado na Assembleia Municipal de Vila Flor pelo BE entre 2009 e 2021. É ativista na Catarse | Movimento Social e cronista no Interior do Avesso. É atualmente dirigente distrital e nacional do Bloco de Esquerda. É atualmente estudante de Doutoramento em Psicologia Clínica e da Saúde na Universidade da Beira Interior.