A metrópole que antes de o ser já o era

Foto de Vitor Oliveira | Facebook
Vivo na cidade de Vila Real há 11 anos e, sinceramente, num futuro próximo, não me vejo a viver noutro local. Se no início vim um pouco por acaso, o que é certo é que a partir de um determinado momento escolhi cá viver. Nesta cidade que adoro e que é tão “minha” como de qualquer outra pessoa que cá viva, escolha viver ou esteja cá de passagem.

Nos últimos 11 anos, acompanhei a evolução da cidade, sem nunca me abster de opinar. Quando cheguei a Vila Real, já com a crise financeira a começar a sentir-se, conheci uma cidade de serviços, muito dependente dos estudantes universitários e das suas “modas”, e como consequência disto, bem mais viva durante a noite do que durante o dia. Uns anos mais tarde, já na altura da Troika, em que o número de alunos baixou consideravelmente e em que praticamente toda a gente andava “à rasca”, durante o dia viam-se as lojas fechadas, um centro histórico moribundo, uma cidade entristecida e um número de sem abrigos sem paralelo e durante a noite a realidade era idêntica. Como baixou o número de estudantes e a crise fazia-se sentir mesmo nos que conseguiram ficar por cá, inevitavelmente, a economia da cidade ressentia-se, independentemente do período do momento da rotação do sol que estamos a falar.

Com a recuperação económica, resultante em grande parte da “Geringonça”, Vila Real começa novamente a ganhar vida e a ter a alegria que bem merece. Não quero aqui retirar protagonismo ao atual executivo camarário, pois considero que a cidade melhorou após 2013. O que é certo é que a atividade autárquica antes de 2013 era praticamente nula, ou seja, fazer melhor não era difícil. Neste momento, Vila Real continua a ser uma cidade média do interior de Portugal, com um trânsito que mais se compara ao Porto e uns transportes públicos idênticos a Ribeira de Pena. Pretende-se a retirada dos carros do centro da cidade, e bem, mas sem transportes públicos de qualidade, e mal. Uma Universidade pujante, e bem, mas com a habitação esgotada e a preços absurdos, e mal.

Para futuras análises, seria interessante verificar a percentagem de estudantes que vêm do litoral para Vila Real e aqueles que são da região. Seria interessante perceber, se aqueles que se fixam são maioritariamente transmontanos oriundos de outros pontos da região, ou quem vem do litoral. Daí podemos, como hipótese, chegar à conclusão de que o crescimento de Vila Real se faz sentir à custa dos Concelhos vizinhos da região transmontana. A mesma análise poderia ser feita para o resto da população, que foge à monotonia de Cidades ou Vilas mais despovoadas para vir para cá. Haverá uma altura em que não teremos mais gente para “sugar” aos Concelhos pequenos, e que, ou fixamos nós a população, ou acontecerá o mesmo a Vila Real que tem vindo a acontecer a estes Concelhos, a perda de população para a cidade “grande” mais próxima.

Assim, caminhamos para o pior de dois mundos: serviços, salários e condições de vida idênticas a todo o Interior e o desassossego, os preços da habitação e o trânsito do Litoral.

Outros artigos deste autor >

Jóni Ledo, de 32 anos, é natural de Valtorno, concelho de Vila Flor. É licenciado em Psicologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, instituição onde também concluiu o Mestrado em Psicologia da Educação. Frequenta atualmente o 3ºano da Licenciatura em Economia na mesma instituição. Foi Deputado na Assembleia Municipal de Vila Flor pelo BE entre 2009 e 2021. É ativista na Catarse | Movimento Social e cronista no Interior do Avesso. É atualmente dirigente distrital e nacional do Bloco de Esquerda. É atualmente estudante de Doutoramento em Psicologia Clínica e da Saúde na Universidade da Beira Interior.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts
jornal Bloco de Esquerda - Legislativas 2024
Ler Mais

Um partido, um programa, uma visão do mundo

Nesta comunidade simultaneamente histórica e imaginária que é “o país” os programas eleitorais que a grande maioria dos partidos – honra feita ao Bloco de Esquerda -- se escusou a apresentar antes dos debates é muito mais que o resultado do seu respetivo posicionamento ideológico.
Ler Mais

Para lá ainda da caridade

Foto por Runners do Demo | FacebookEm tempos de disrupção social a miséria assoma de todos os poros…
Ler Mais

Direito a escolher como viver

Foram aprovados na generalidade na Assembleia da República os cinco projetos de lei sobre descriminalização da eutanásia. Foram…
Skip to content