“Jeiras” com direitos. O panorama agrícola

A pandemia veio colocar a nu o que acontece desde sempre com os trabalhadores e trabalhadoras na agricultura. Pessoas que vivem uma vida de trabalho extremamente desgastante e que nunca chegam a ter um contrato de trabalho o que, necessariamente, leva a que não estejam protegidos e que não tenham prestações sociais, não contando sequer para as estatísticas.

É dramático ver pessoas a viverem dia após dia sem saber o dia de amanhã, e famílias inteiras a viverem de trabalhos sazonais que dependem muito das condições climatéricas, e que, num momento de alterações climáticas as torna ainda mais incertas.

Os distritos do interior, nomeadamente o distrito de Bragança, que têm na agricultura a sua principal atividade estão a ser ainda mais prejudicados com as mudanças ambientais bruscas, que provocam ano após ano destruição de colheitas o que afeta, principalmente os pequenos produtores que ficam sem o seu meio de subsistência, mas, também, os trabalhadores “à jeira” como se diz à boa maneira transmontana, que são os precários dos precários.

Olhando para o salário de homens e mulheres encontra-se outra realidade absurda de desigualdade salarial. Mesmo em funções iguais, se fizermos o cálculo mensal de 22 dias úteis de trabalho, uma mulher recebe menos 110 euros por mês do que um homem.

Há tanto para mudar nas condições de trabalho destes homens e mulheres que executam a sua atividade diariamente sob condições adversas e que mesmo após dezenas de anos de trabalho não veem este ser valorizado.

Tanto para fazer e tanto para alterar nesta área que nos apresenta uma qualidade excecional de produtos alimentares, mas que fica muito a dever nas condições laborais.

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Jóni Ledo, de 32 anos, é natural de Valtorno, concelho de Vila Flor. É licenciado em Psicologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, instituição onde também concluiu o Mestrado em Psicologia da Educação. Frequenta atualmente o 3ºano da Licenciatura em Economia na mesma instituição. Foi Deputado na Assembleia Municipal de Vila Flor pelo BE entre 2009 e 2021. É ativista na Catarse | Movimento Social e cronista no Interior do Avesso. É atualmente dirigente distrital e nacional do Bloco de Esquerda. É atualmente estudante de Doutoramento em Psicologia Clínica e da Saúde na Universidade da Beira Interior.

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