Quem não foi não sabe o que perdeu!

Teatro do Vestido
Teatro do Vestido
Foto por Estelle Valente em teatrodovestido.org
O Teatro do Vestido apresentou no Teatro Viriato, 7 e 8 de Fevereiro, a peça “Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas” com uma interpretação fabulosa de Joana Craveiro.

Poderia ter sido apenas mais uma peça de teatro onde o passado recente de Portugal, o antes e o pós 25 de Abril, era relembrado, mas, na verdade foi uma viagem que cruzou a memória do fascismo e da revolução com a actual realidade política e social, onde questões como o racismo, o populismo da extrema-direita ou as desigualdades sociais estão bem vivas e, se não estivermos atentos e actuantes, podem colocar em risco a liberdade e a democracia.

Toda esta viagem despertou a minha memória!

Tinha 7 anos quando “rebentou” a revolução e o que nunca mais esquecerei são os sorrisos e a imensa alegria estampada nos rostos das pessoas. Mas, nos anos logo a seguir, a memória que me “assalta” é a dos meus pais terem medo de entrar no carro por suspeita de bomba! E, apesar de não haver nenhum militante do PCP em minha casa (o meu pai era sindicalista), este medo instalou-se confirmando assim que ainda era “perigoso” falar de política depois do golpe de direita (em conluio com o PS) do 25 de Novembro. Como dizia o José Mário Branco: “Quando a nossa festa se estragou/ e o mês de Novembro se vingou/ eu olhei pr’a ti/ e então eu entendi/ foi um sonho lindo que acabou/ houve aqui alguém que se enganou”.

Só quando fui para o Liceu (1979/1980) percebi verdadeiramente o que tinha sido o 25 de Abril e que nem tudo tinha mudado na prática, ainda continuava a ser muito difícil pensar de forma diferente e pertencer a partidos fora das “maiorias”.

Com 14 anos comecei a minha “caminhada” política com a UDP. Este facto assumido originou alguns (muitos) episódios caricatos. No meu trajecto diário casa-Liceu passava pelo Parque da Cidade onde alguns “meninos” mais à direita (MIRN- Movimento Independente para a Reconstrução Nacional…) me agrediam frequentemente com palavrões e o insulto do momento: “comuna!”.  Claro que a minha resposta era sempre: “fascistas”!

É interessante registar que há bem pouco tempo vi uma dessas pessoas a cantar a Grândola Vila Morena do “nosso” Zeca Afonso (eheheh).

A maratona de 4h30 da Joana Craveiro conseguiu reavivar e criar outras memórias!

Assistimos a um “glossário”, cujas palavras e frases fazem parte do património da revolução: PREC-Processo Revolucionário em Curso; Movimento Popular: “A Força do Povo”; Tomar o Espaço Público; Comissão de Trabalhadores/as; Revolução; MFA: Movimento das Forças Armadas; Democratizar, Descolonizar, Desenvolver…

Que nunca nos falhe a memória!

Como apaixonada por teatro foi muito gratificante ver o cumprimento na íntegra da sua função social e política que vai muito para além da arte pela arte e do puro entretenimento. O Teatro deve servir para fazer reflectir e ser um veículo para a mudança de mentalidades e para uma sociedade mais equilibrada, justa e humanista.

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Nascida em Viseu em 1967, é sobejamente conhecida na cidade que a viu crescer, pela dedicação e alegria com que se empenha na sua intensa actividade profissional, cívica, desportiva, associativa, sindical, cultural e política. Professora de Educação Física e Mestre em Atividade Física e Desporto. De 2008 a 2013 foi presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Viseu. Actualmente é dirigente sindical (SPRC Viseu, FENPROF), foi membro da Direcção da FRAP (Federação Regional de Associações de Pais) de Viseu, Membro da Associação de Professores de Educação Física - APEF VISEU. Membro da Comissão Concelhia de Viseu e da Comissão Distrital de Viseu do BE. Esta autora escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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