Estas figuras devem ser lembradas onde mataram, torturam e cometeram as maiores atrocidades, é aí que devemos conhecer a História. Isto não é ter um complexo de provinciano, mas sim ter os pés assentes na terra e estar ciente das perigosidades que esta iniciativa pode trazer. Se existisse locais em Santa Comba Dão que fossem verdadeiramente marcados pelo fúria do Estado Novo, venham esses Museus. Relembro que as obras da Casa do Passal em Cabanas de Viriato, a casa do Aristides de Sousa Mendes, estão paradas ao tempo.
A criação deste espaço em Santa Comba Dão, tão defendido pela Partido Socialista local e regional, não é um acto democrático, é o branqueamento e a normalização de um regime que assassinou, torturou, mentiu e empobreceu as portuguesas e os portugueses e os países onde Portugal achou ser proprietário.
Os museus que devem existir deveriam refutar o saudosismo contando a História a partir do prisma da memória daquelas e daqueles que sofreram a opressão do Estado Novo. Basta ler a nota de esclarecimento da autarquia sobre as obras e da maneira que descreve o edifício: “o processo de construção da Escola Cantina Salazar é, a todos os títulos, exemplar do modelo de planeamento, investimento e gestão da escola básica, preconizado pelo Estado Novo (relembramos que esta Escola era para famílias escolhidas pelo Salazar). Também o é, de forma marcadamente, evidente, no que respeita à orientação arquitectónica e ao papel ideológico e de transmissão de valores associados a este regime”.
Nada melhor que fazer um museu num local marcadamente ideológico do regime. Também acho que a Escola-Cantina deve ser ocupada, mas porque não mudar de paradigma e criar por exemplo um Centro de Estudos Hidrográficos do Rio Dão ou simplesmente doar o espaço à comunidade? As possibilidades são muitas e das mais variadas, mas parece que somos obrigados a ter um museu sobre o Salazar ou/e o Estado Novo, é a sina de Santa Comba Dão.
Querem-nos fazer acreditar que o único caminho que as e os santacombadenses têm é a glorificação do filho da terra que nos leva a confundir o bairrismo com fascismo. Um concelho que precisa de serviços públicos funcionais, de acessos e mobilidade adequados às necessidades das populações. Um concelho que precisa de emprego e de qualidade, de fixar pessoas que não se fixam com um museu saudosista mas sim com serviços que melhorem a qualidade de vida dos e das santacombadenses. Um concelho que precisa que as promessas feitas sejam cumpridas.
Diego Enrique Rodrigues Garcia, nasceu no dia 1 de Agosto de 1992 em Ourense, na Galiza. Desde 2009 que reside continuamente em Portugal, na região da Beira Alta.
Ativista social e independentista galego, está ligado ao movimento associativo na área ambiental, do bem-estar animal e da juventude. Dirigente do Bloco de Esquerda no distrito de Viseu
Atualmente a realizar uma licenciatura em Estudos Europeus na Universidade Aberta.