O Interior perde representatividade, os votos não podem ser deitados ao lixo

Com a maior dispersão de votos nas eleições do passado dia 6 de Outubro como consequência de um maior número de partidos a apresentarem-se as eleições, para além da redução de mandatos nos distritos de Viseu e da Guarda em benefício de Lisboa e Porto, e continuando a não existir um círculo nacional de compensação para os votos que não elegem mandatos, ou seja, juntar todos os votos que não elegem nos círculos distritais e envia-los para um círculo nacional, o número de votos depositados nas urnas, mas que não contam rigorosamente nada para eleger deputados ou deputadas, aumentou de forma significativa face a 2015. De facto, passou-se de cerca de 470 mil votos para o lixo (9,4% dos votos válidos, a rondar os 5 milhões), para 626 mil (que representam 13,4% dos cerca de 4,7 milhões de votos válidos). Já não chega a abstenção, agora 13% dos votos não contam.

Estando o sistema eleitoral desenhado para favorecer os maiores partidos, por exemplo o MRPP não elegeu nenhum deputado com mais 50 mil votos em Lisboa mas o Partido Socialista elegeu três deputados em Leiria com a mesma votação, este défice de representação atinge hoje patamares inaceitáveis em vários círculos, onde ir votar e não votar PS ou PSD significa, na prática, um voto deitado ao lixo como pode ser o caso do distrito de Castelo Branco onde os 10352 votos do Bloco de Esquerda foram deitados fora. Com efeito, o peso da votação em partidos que não elegem à escala do círculo (e que não é recuperada através de um círculo de compensação), chega a superar os 30% em casos como o de Beja, Évora e Portalegre (onde a maioria dos votos não contam para eleger), 29% no caso do distrito de Castelo Branco e 25% no distrito de Viseu, registando-se ao mesmo tempo um aumento da proporção de votos que vão para o lixo em praticamente todos os círculos (com a excepção de Lisboa, cujo valor desce para 4%, e do Porto, que se mantém nos 7%).
A representatividade está a desfalecer, o distrito de Portalegre só elegeu mandatos para o Partido Socialista e no total do território alentejano foram 6 para o PS.

Dada a distribuição de votos por partidos de menor dimensão nos círculos mais pequenos (onde se elegem apenas entre 2, 3 ou 4 deputados), é de admitir que uma parte significativa do eleitorado quando vota, o seu voto não conta para nada. É necessário encarar este facto com seriedade, pelo que importa dar prioridade máxima à criação de um círculo de compensação nacional, que reconheça o efectivo valor democrático de cada voto e que ajude a travar, também por esta via, o aumento da abstenção.

O círculo nacional de compensação não é criar deputados de primeira e de segunda, mas é sim efectivar os votos em urna e que estes não sejam deitados fora. O Bloco de Esquerda viu deitados ao lixo 80.599 votos, quando poderia ter elegido nos distritos de Castelo Branco (10352 votos) e de Viseu (13956 votos), por exemplo

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Diego Enrique Rodrigues Garcia, nasceu no dia 1 de Agosto de 1992 em Ourense, na Galiza. Desde 2009 que reside continuamente em Portugal, na região da Beira Alta.
Ativista social e independentista galego, está ligado ao movimento associativo na área ambiental, do bem-estar animal e da juventude. Dirigente do Bloco de Esquerda no distrito de Viseu
Atualmente a realizar uma licenciatura em Estudos Europeus na Universidade Aberta.

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