Vila Real pós-25 de abril. Padre Max: símbolo de liberdade

Padre Max e Maria de Lurdes
Torna-se assim imperativo voltar a lutar. Tomemos como exemplo o Padre Max que nunca fugiu a uma luta. Era um homem de ação, empenhado em defender as causas populares e solidário com as injustiças, e sem medo de lutar pela liberdade e pela democracia. Nem que essa luta lhe tirasse a vida. Mas tirou.

A construção de um processo revolucionário no Mundo, na Europa e em Portugal assumiu-se como um processo de construção de sociedades igualitárias. Dos processos revolucionários fazem parte do imaginário comum: a igualdade, a construção de uma sociedade sem classes e o desenvolvimento de um sistema económico de base humanista, socialista e, sobretudo, anticapitalista. A Revolução dos Cravos foi a derradeira prova de que uma sociedade socialista era possível. Portugal vivia sob um regime ditatorial, de inspiração fascista, cuja riqueza e poder económico estavam concentrados numa pequena elite capitalista que suportava o regime. A população vivia em pobreza profunda, com fome, sem condições de habitabilidade, sem acesso à saúde ou à educação.

Este regime fascista português, colonialista, iniciou e alimentou uma guerra colonial que durou cerca de 13 anos; mobilizou a força de trabalho jovem de Portugal para África, onde muitos perderam a vida e outros voltaram mutilados, física e psicologicamente; um regime fascista e colonialista que mobilizava para o esforço da guerra mais de metade do orçamento, abandonando a sua população à fome e à miséria.

A revolução de abril em Portugal vem trazer a esperança a um país que vivia um tempo sombrio, onde a força de trabalho era enviada para os campos de minas numa guerra anacrónica, assassina e extemporânea. O fim do processo da Revolução marca também uma mudança a nível mundial: os países do ocidente tornam-se sociedades consumistas, dá-se a queda do Muro de Berlim e a URSS entra em rotura. É o fim de um projeto socialista, agora com a hegemonia de uma América neoliberal e o mito de que o capitalismo é imperativo para as sociedades. 

O sistema capitalista, assente na falsa meritocracia, promove sociedades mais individualistas e mais consumistas. As sucessivas crises por que passámos, sempre crises relacionadas com o sistema capitalista, mostram que este é um sistema que não resolve os problemas das pessoas: em todas as crises os ricos ficam mais ricos e os pobres ficam mais pobres. É visível, sobretudo no interior, que as promessas capitalistas são um engodo: Vila Real perdeu habitantes, as populações envelheceram, ficou imobilizada; as pessoas foram forçadas a abandonar as suas terras na procura de melhores condições de vida. Desde a Revolução dos Cravos que todos os eleitos para o poder local, os autarcas nas juntas de freguesias, nos municípios e nas assembleias municipais, tinham o dever de proteger todas estas gentes, mas não o fizeram. Em Vila Real, o PSD perpetuou-se no poder, o PS segue-lhe os mesmos passos, e os problemas do concelho mantêm-se: falta investimento na habitação, nos transportes públicos, na cultura e património.

Torna-se assim imperativo voltar a lutar. Tomemos como exemplo o Padre Max que nunca fugiu a uma luta. Era um homem de ação, empenhado em defender as causas populares e solidário com as injustiças, e sem medo de lutar pela liberdade e pela democracia. Nem que essa luta lhe tirasse a vida. Mas tirou.

Não nos podemos esquecer da luta que se iniciou a 25 de abril de 1974, luta essa que o Padre Max deu continuidade no nosso concelho. A memória desta luta associada ao Padre Max é fazer dele um símbolo da luta contra a extrema-direita, que o matou. Estamos prontos e presentes para lutar contra as injustiças do nosso concelho, do interior, mas, também, fazer do Padre Max um símbolo para que os jovens continuem resilientes em viver numa sociedade desenvolvida, não apenas no litoral, mas neste território interior tão esquecido e abandonado pelo poder político local.

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Linguista, investigador científico, feminista e ativista social.
Nascido em Lisboa, saiu da capital rumo a Terras de Trás-os-Montes e cedo reconheceu o papel que teria de assumir num interior profundamente desigual. É aí que luta ativamente contra as desigualdades sexuais, pelos direitos dos estudantes e dos bolseiros de investigação. Membro da Catarse - Movimento Social, movimento que luta contra qualquer atentado à liberdade/dignidade Humana. Defende a literacia social e política.
(O autor segue as normas ortográficas da Língua Portuguesa)

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