Vejamos o exemplo dos EUA. Trump chegou, também, ao poder pelo voto popular. E vejamos o que fez Trump à democracia norte-americana. Todos vimos o que os apoiantes de Trump fizeram no Capitólio dos Estados Unidos (ou congresso ou assembleia): invadiram a chamada “casa da democracia”, entram em confronto com a polícia, pois foram alimentados pelo ódio e pela política envenenada durante quatro anos.
Se olharmos para o eleitorado que votou em Trump, percebemos que o voto no ex-presidente está, maioritariamente, no interior do país (longe da costa ocidental e oriental). É no interior dos EUA que residem os mais conservadores.
Se olharmos para o panorama europeu, nas últimas presidenciais francesas, percebemos que Emmanuel Macron venceu, esmagadoramente, nas grandes cidades, que inclui Paris, onde arrecadou nove em cada dez votos. Por outro lado, Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, obteve o maior apoio nos meios rurais. Se observarmos, por exemplo, o departamento de Gironde, a vitória de Macron incide na cidade de Bordéus e o maior apoio de Le Pen veio das áreas rurais. O partido de Le Pen tem ganhado mais notabilidade junto das áreas onde as indústrias tradicionais estão em declínio. A candidata venceu em Calais, onde obteve 52% dos votos, pois o Porto perdeu a sua indústria devido às importações baratas. Marine Le Pen venceu, claramente, nos meios onde o desemprego se faz sentir com maior força.
Em Espanha, o partido da extrema-direita, o Vox, alcançou 52 lugares no Congresso dos Deputados, cujo voto massivo está localizado na metade sul do país. O voto reside nas maiores cidades das províncias do Sul: Algeciras, Ceuta, Almería, Múrcia, Huelva, entre outras. Todas estas cidades tiveram ligações fortes à emigração do Norte de África. A par, ganharam também notoriedade em núcleos de quartéis militares: Cartagena e Madrid e foram a segunda força em Cádis e Málaga.
O fenómeno da extrema-direita em Portugal fez sentir-se nas últimas legislativas. O partido Chega teve o seu melhor resultado em áreas onde há menor poder de compra, menos serviços públicos e onde a criminalidade é, praticamente, inexistente.
Linguista, investigador científico, feminista e ativista social.
Nascido em Lisboa, saiu da capital rumo a Terras de Trás-os-Montes e cedo reconheceu o papel que teria de assumir num interior profundamente desigual. É aí que luta ativamente contra as desigualdades sexuais, pelos direitos dos estudantes e dos bolseiros de investigação. Membro da Catarse - Movimento Social, movimento que luta contra qualquer atentado à liberdade/dignidade Humana. Defende a literacia social e política.
(O autor segue as normas ortográficas da Língua Portuguesa)
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