Vila Real pós-25 de abril. | Padre Max: a culpa morreu solteira

2 de abril de 1976. Cumieira, Vila Real. Na Casa da Cultura da Cumieira, o Padre Max e a aluna Maria de Lurdes, ensinavam português e francês a trabalhadores-estudantes. O Padre Max sempre esteve do lado da classe operária e os direitos dos explorados. Depois de terminar o seminário, rumou a Lisboa e trabalhou no setor estudantil da Ação Católica, em 1971, e foi professor na Escola Padre António Vieira. Perseguido, desde logo, pela PIDE, resiste ao apoiar estudantes revolucionários. Dá-se o 25 de abril e o Padre Max regressa a Vila Real, porque, segundo ele: “O meu povo é Vila Real e ele talvez precise de mim”.

Quando chega a Vila Real, as ideias do Padre Max começam a incomodar. O Padre Max recebeu várias ameaças de morte e o Bispo de Vila Real endereçou, em março de 1976, uma carta ao Padre Max dizendo que “devido à sua conduta e atividades de natureza política”, o Bispo se sentia no dever de dar uma explicação pública às gentes. E de que gentes falamos? Das famílias abastadas vila-realenses, que tinham, com o derrube da ditadura, começado a perder influência. Estas famílias atuavam no seio da direita radical. Militantes do CDS chegaram a ameaçá-lo em público que lhe dariam um tiro. O Padre Max era já vigiado por militantes do MDLP (partido de António de Spínola). Em reuniões, estes chegaram a engendrar espancar o Padre Max e deixá-lo nu na praça principal de Vila Real.

Na noite de 2 de abril, depois de terminadas as aulas, ao Km 71, o carro onde seguiam o Padre Max e Maria de Lurdes explodiu. Maria de Lurdes não resistiu e faleceu nessa mesma noite. O Padre Max acabou por sucumbir no dia 3 de abril, depois de ter entrado em coma. Tinha 32 anos. O MDLP tinha orquestrado assassinar o Padre Max. A organização foi acusada, mas os executantes foram absolvidos. Eu relembro que vários dirigentes deste grupo bombista ocupam um espaço importante na nossa sociedade: José Miguel Júdice (tem antena aberta na SIC) e Diogo Pacheco de Amorim, que é o número dois do Chega e o ideólogo de André Ventura. O perigo espreita à nossa porta. O perigo está ao virar da esquina. Já não temos um padre Max em cada esquina. Mas temos a sua memória. E é nela que temos de nos agarrar.

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Linguista, investigador científico, feminista e ativista social.
Nascido em Lisboa, saiu da capital rumo a Terras de Trás-os-Montes e cedo reconheceu o papel que teria de assumir num interior profundamente desigual. É aí que luta ativamente contra as desigualdades sexuais, pelos direitos dos estudantes e dos bolseiros de investigação. Membro da Catarse - Movimento Social, movimento que luta contra qualquer atentado à liberdade/dignidade Humana. Defende a literacia social e política.
(O autor segue as normas ortográficas da Língua Portuguesa)

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