Ontem vi o Big Brother e o suposto programa de entretenimento foi uma gala de perigosa desinformação, sinónimo de um serão de angústia.
Este programa tem permitido que à casa de muita gente chegue o que é a imagem de uma relação abusiva (poderá não o ser efetivamente, não me cabe a mim resolver a investigação, mas a imagem que passa é definitivamente essa).
A imagem que passa – e que é normalizada – é a de uma relação em que Bruno de Carvalho manipula, condiciona, oprime e controla Liliana Almeida a nível intelectual, psicológico, emocional e, pelo menos em dois episódios, físico.
- Nada disto pode ser justificado com o amor, como se tentou fazer. Fazê-lo é desrespeitar todas as vítimas de violência em contexto de intimidade.
- A violência não é só respeitante à dimensão física. Mesmo que a forma como o concorrente agarrou a namorada pelo pescoço seja “tesão”, como se justificam todos os outros comportamentos?
- Alegar “más intenções”, “inveja” e ataques a “título pessoal” sobre um possível cenário de violência doméstica não valem. A violência doméstica é um crime público, denunciá-la não é invadir a esfera privada, é cumprir um dever público.
- Resolver o assunto porque a suposta vítima “tem cabeça para pensar” e diz não se sentir vitimada é falacioso e perigoso. As vítimas têm cabeça para pensar, porém devido à própria natureza deste tipo de violência muitas vezes não se encontram na melhor situação para o reconhecer e/ou para o denunciar.
- “Neutralidade” e “imparcialidade” neste caso demonstram a pior face de uma indústria de entretenimento dominada por interesses capitalistas em que o valor das audiências ultrapassa o valor da mensagem transmitida.
Neste dia 14 de fevereiro, popularizado como o dia do amor, que se sabia que nada disto é OK. Violência, agressividade e opressão não fazem parte do romance, do casamento ou de qualquer tipo de relação de intimidade. VIOLÊNCIA DE GÉNERO NÃO É ENTRETENIMENTO!
Ativista. Formada em Antropologia. Deputada na Assembleia Municipal de Viseu pelo Bloco de Esquerda.