Walden ou a vida nos bosques (1939)

Árvore cortada
Árvore cortada

«Embora não sejamos tão degenerados que já não possamos viver em grutas ou cabanas, ou vestir-nos de peles, é certamente melhor aceitarmos as vantagens, embora caras, oferecidas pela invenção e indústria humanas. Nas nossas imediações, tábuas e cascalho, cal e tijolos são mais baratos e acessíveis que grutas adequadas ou troncos inteiriços, cascas de árvore em quantidade suficiente, ou mesmo argila de boa qualidade e pedra lisa. Falo de cátedra sobre o assunto, porque me familiarizei com ele na teoria e na prática. Com um pouco mais de tino, podemos usar esses materiais de modo a tornarmo-nos mais ricos de que os que agora são os mais ricos, e fazer da civilização uma bênção. O homem civilizado é um selvagem mais experiente e mais sábio. Mas vamos sem demora ao relato da minha experiência»

Quando percorro o espaço do nosso concelho, por vezes, encho-me de cólera, mas não me atiro aos autarcas eleitos imprudentemente. Antes, me contenho e digo para mim mesmo, tal como Ulisses fez, «Paciência, meu coração». Esta simples auto recomendação é uma das maneiras estranhas de reagir à desorganização do território e à falta de condições dadas pelos autarcas às populações do interior, em pleno século XXI. É verdade que a nossa região tem momentos de rara beleza! Porém, até lá chegarmos, passamos, frios e mudos, por casas, barracas e barracões tristes e feios; por espaços públicos cinzentos, rosa e laranja, sem condições para serem habitados convenientemente. Por lixo à beira das estradas incertas e dos rios precários. O nosso território, estranho de eucaliptos, é gerido por um grupo de autarcas que dificulta, desde há muito, a vida aos avós e netos; que permite o alvará a projetos inconcebíveis e, também, o encerramento de espaços de soberania, cuja finalidade é exercer a jurisdição. Gente, sem visão, que consente o fecho de escolas, centros de saúde e mais o todo que não dá lucro. Devido, em muito, a esta gente abençoada, a nossa região continua condenada ao abandono pois, tais eternos neoliberais, jogam a vida das pessoas como quem brinca com um cubo mágico. Pois! Eles sabem que os quarenta e três triliões de combinações possíveis do seu brinquedo predileto dão para tudo. Dão para permitir a desertificação do interior e o desequilíbrio ecológico, a degradação ambiental e o excesso e desregramento das pessoas e animais. Por incrível que pareça, sem perderem votos…! Por isto, tal gente, vinda não sei de onde, não vai ficar por aqui, visto ter descoberto uma nova maneira de “pintar” os problemas: as sinistras intervenções urbanas. Devido aos dinheiros europeus, as cidades de Viseu, Mangualde, Tondela, Guarda, Covilhã, Castro Daire, e todas as outras, estão a ficar ainda mais parecidas (nada originais). Por um lado, devido à pobreza e precariedade recorrentes e por outro, às estátuas e pinturas reverentes que nascem no breu das rotundas muitas, nos parques naturais e nos prédios e muros condenados. Enfim! Haja paciência…

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Nasceu e cresceu em Viseu, no seio de uma família com fortes raízes na cidade. Vive em Lisboa desde 2007 e desenvolve o seu trabalho como empresário em nome individual. É dirigente associativo desde muito novo, estando ligado à política, ao desporto e à economia.

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