Matérias Perigosas

Foto por Motoristas do Asfalto | Facebook
Segundo o Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) existe uma concertação entre o Governo e a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM). A ser verdade, será mais uma das muitas combinações de interesses instaladas na nossa sociedade… Nesta batalha anunciada entre os poucos patrões e os 50 mil motoristas, que se prevê dura, estão em causa os direitos dos trabalhadores! Segundo o que li e escutei, o SNMMP, que tinha marcado uma greve nacional para o dia 23 de Maio de 2019, para reivindicar um salário base igual a dois salários mínimos nacionais (€1.200,00 acrescidos dos restantes prémios), foi, entretanto, contrariado pela ANTRAM, que disse não ter condições para aprovar tais valores, ficando acordado – entre as partes – um salário de €900,00 acrescido dos prémios, que completariam o rendimento global de €1.750,00 (aumento gradual até 2022). Apesar de saber que tal acordo não beneficia totalmente as famílias dos motoristas, que passam a maior parte da vida na estrada (com mais de 400 horas de trabalho suplementar por ano), o SNMMP desconvocou tal greve, que poderia contar com mais de 800 camiões, que transportam combustíveis e outras matérias perigosas (matérias explosivas, químicas e radioativas), parados pelo território nacional e que, tal como aconteceu no passado mês de Abril, teriam a capacidade de, entre outras externalidades negativas para os portugueses, voltar a cancelar voos da TAP, paralisar os transportes rodoviários, esgotar os supermercados e todos os postos de abastecimento do País. Apesar dos inconvenientes que poderão causar, caso a greve agendada para o mês de agosto aconteça, a meu ver, os motoristas não são os “maus da fita”. São, tal como a maioria dos trabalhadores, vítimas do sistema corrupto, que é concertado e penalizador! Caso não se saiba, os motoristas de transporte de matérias perigosas enfrentam um conjunto de riscos profissionais: para além da morte por acidente, confrontam-se com os longos horários de trabalho e os solitários turnos da noite, com o risco de desenvolverem doenças cardiovasculares devido à má qualidade da alimentação prestada nas diversas áreas de serviço à beira da estrada implantadas, pelas péssimas acomodações onde sonham e dormem, pelos riscos que correm em certos locais de descarga e pela solidão e desprezo com que são tratados. Apesar dos acordos em causa terem sido assinados na presença de representantes do governo, a força do advogado da ANTRAM, André Matias de Almeida (irmão de um assessor do ministro da economia), parece ser grande, visto ter conseguido com que os representantes do governo iniciassem uma campanha difamatória contra os motoristas. Resumindo: o governo sabe que existe um problema que tem de ser resolvido, sabe que a ANTRAM não está a cumprir com o acordado (há milhões de euros que não são pagos à segurança social e à autoridade tributária pelas empresas representadas pela ANTRAM que pagam salários através de ajudas de custo e ao quilómetro), mas preferiu anunciar um plano de emergência… À porta das eleições legislativas, os portugueses deverão estar cientes que o PS não poderá ser igual ao PSD e ao CDS, nem tão pouco parecido com o BASTA ou com o ALIANÇA; que não pode colocar os trabalhadores no alvo desta situação que demonstra bem que a crise estrutural do País assenta na exploração e no ataque generalizado aos direitos dos trabalhadores. Espero que o PS mostre que quer que o País avance no contributo da luta dos trabalhadores e das suas organizações de classe, interrompendo – uma vez por todas – o rumo que a extrema direita traça para desgraçar os trabalhadores e as famílias portuguesas.

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Nasceu e cresceu em Viseu, no seio de uma família com fortes raízes na cidade. Vive em Lisboa desde 2007 e desenvolve o seu trabalho como empresário em nome individual. É dirigente associativo desde muito novo, estando ligado à política, ao desporto e à economia.

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