A actual conjuntura sócio-sanitária parece ter arrogado “meio mundo”, se não com os diplomas, pelo menos com a convicção de se ser certificado em Medicina e, Comunicação e Jornalismo, assim como fez do habitual (e orgulhoso) negligente político um especialista em gestão de crises e todo e qualquer assunto associado à administração política e pública de meios e recursos, tanto humanos como económico-financeiros. Num repente, pululam em cada teclado e conta de “facebook” peritos em logística (e) política.
Não me interpreteis mal, não desdenho de que se tenham e demonstrem opiniões ou de que se partilhem ideias, homessa! É precisamente o que estou aqui a fazer! Apenas acho de uma soberba hipocrisia e de uma sincera infantilidade, como os mesmos e na mesma frase em que afirmaram “não ligo a política, é algo que nunca me interessou”, logo de seguida, ofendam o bom senso do silêncio, bolsando verborreicos disparates sobre como fariam e aconteceriam milagres, sozinhos, quando estudiosos e profissionais, em grupo, busca(va)m ainda, ou aplica(ra)m já, o indubitavelmente melhor e possível plano de acção. E a minha indignação não é sequer pela arrogância e altivez dos comentários, como se achando “descobridores da pólvora”, mas sim na prepotência como expõem os mesmos quase messianicamente, quais profetas iluminados, ao mesmo tempo que ignoram e até refutam com a sua típica falta de argumentação os factos apresentados por quem de direito.
Esta postura que muitos adoptam nas redes sociais, não para partilhar e debater ideias, mas para se exporem como profetas, na desgraça, é precisamente uma das grandes responsáveis pela disseminação de desinformação e conteúdo falso, descaradamente errado e até mesmo vil. Porque esta atitude profética e a prepotência de “rei na barriga” em achar que se sabe tudo (admitindo, no entanto, não saber nada), leva a um infeliz e desmazelado desinteresse em querer, efectivamente, saber e confirmar o que se acha saber, assim como em pensar, de facto, no que realmente se sabe.
A mentira, tal como a verdade, está por vezes à curta perna de distância de um clique e uma pesquisa. E o pior é que por vezes nem é por preguiça, mas puro e lerdo desinteresse que não se apuram os factos. Nesta era de redes sociais e facilitismos, a irresponsabilidade (até mesmo maldade) de uma única pessoa pode ferir e afectar inúmeras outras; pois que nesta propagação rápida, fácil e precipitada, de conteúdos e notícias, “clickbaits” (caça-cliques) e letras gordas, é de sobeja importância sabermos partilhar e termos cuidado com as partilhas, ter opinião, mas saber opinar. Por vezes o silêncio vale ouro, já há muito o diz a sapiência da grei e é nas suas graças que muitas vezes passa por sábio o tolo. Pelo que, posto isto, por aqui me calo.
Nasceu em Macedo de Cavaleiros, Coração do Nordeste Transmontano, em 1983, onde orgulhosamente reside. Licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas, publicou poemas e artigos na extinta fanzine “NU” e em blogues, antes de editar em 2015 o livro-objecto “Poesia Com Pota”. Português de Mal e acérrimo defensor da regionalização foi deputado municipal entre 2009-2013.
Este autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.