Rui Rio é um chico-esperto, sendo multifacetado mostra a cara que lhe convém no momento e, sem espinha dorsal para suster o carácter, contorce-se como ninguém por entre jogos de poder e interesse. Apropria-se do medo e da desconfiança, para acusar partidos democráticos de ameaçarem a democracia, enquanto dá a mão a quem, realmente, abomina a democracia, a constituição e a maioria dos portugueses. E juntos cospem na cara e pisam as mãos daqueles que são obrigados a dar uma e a estender as outras para conseguir o pouco que têm, para mal conseguirem sobreviver.
Os Açorianos são portugueses, o PSD Açores não é nem um partido diferente, nem dissidente do PSD nacional, Rui Rio é tão presidente dum, como é presidente doutro. Dar a mão ao ódio nos Açores é dar a mão ao ódio em todo o território nacional. Por mais faces que Rio queira demonstrar com a sua chico-espertice, todas elas deveriam ter vergonha (mas uma vergonha verdadeira e não uma palavra desacreditada dita por puro populismo), todas as suas faces deveriam enojar-se em repulsa pela simples noção de associação ao ódio, à xenofobia, à inconstitucionalidade. Rui Rio pode acreditar que não precisa de esquivar-se por entre os pingos da chuva, porque como os afluentes dos quais não lhe importam as descargas e porcaria que tragam a boiar, Rio vê na chuva apenas algo para lhe aumentar o caudal. Não lhe importa o dano que as cheias possam causar, nem a poluição que leve ao desaguar no mar salgado. Porque desse mar salgado, Rui Rio não quer saber das lágrimas que lhe deram o sal, nem das vidas que arrastou e devastou, tudo o que lhe interessa é a intensidade jactante do seu próprio caudal. E o resto, o resto é paisagem da qual ele não quer saber. Os restos e as migalhas ficam para o povo se entreter, desde que Rui Rio tenha o poder.
Nasceu em Macedo de Cavaleiros, Coração do Nordeste Transmontano, em 1983, onde orgulhosamente reside. Licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas, publicou poemas e artigos na extinta fanzine “NU” e em blogues, antes de editar em 2015 o livro-objecto “Poesia Com Pota”. Português de Mal e acérrimo defensor da regionalização foi deputado municipal entre 2009-2013.
Este autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.