Sobre as multifaces de Rui Rio

Rui Rio
Foto por European People’s Party, CC BY 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/2.0>, via Wikimedia Commons
Rui Rio é um tipo esperto. Oferece com uma mão o que se a outra não retirou ainda, agarra já no tapete para o puxar; preparado, de antemão, para depois, enquanto malandro puxa o tapete, acusar descaradamente outros de o forçarem a tal. Coitado, tão inocente que é o chico-esperto. De certo modo não mente, é, de facto, uma marioneta dos interesses e interesseiros da banca e do capital. Mas é também ele próprio um manipulador, um bajulador conivente, e por conveniência, daqueles que se acham no direito burguês e senhorial de governar nas sombras, vergando o país à sua vontade e ao lucro das suas carteiras. A chibatada figurada e psicológica que estala nos ouvidos de quem perde(u) tudo para o liberalismo desumano e usurpador, é música nos ouvidos dos que vêem as contas aumentar e as panças inchar com a fome e miséria de a quem só resta a dignidade. Quando essa se não perde(u) também. Rio é como um curso de água ao qual não importa de onde vêm, nem que porcarias trazem os seus afluentes. O que lhe importa é crescer e ganhar poder, não importando as margens que inunda, nem as povoações que afunda.

Rui Rio é um chico-esperto, sendo multifacetado mostra a cara que lhe convém no momento e, sem espinha dorsal para suster o carácter, contorce-se como ninguém por entre jogos de poder e interesse. Apropria-se do medo e da desconfiança, para acusar partidos democráticos de ameaçarem a democracia, enquanto dá a mão a quem, realmente, abomina a democracia, a constituição e a maioria dos portugueses. E juntos cospem na cara e pisam as mãos daqueles que são obrigados a dar uma e a estender as outras para conseguir o pouco que têm, para mal conseguirem sobreviver.

Os Açorianos são portugueses, o PSD Açores não é nem um partido diferente, nem dissidente do PSD nacional, Rui Rio é tão presidente dum, como é presidente doutro. Dar a mão ao ódio nos Açores é dar a mão ao ódio em todo o território nacional. Por mais faces que Rio queira demonstrar com a sua chico-espertice, todas elas deveriam ter vergonha (mas uma vergonha verdadeira e não uma palavra desacreditada dita por puro populismo), todas as suas faces deveriam enojar-se em repulsa pela simples noção de associação ao ódio, à xenofobia, à inconstitucionalidade. Rui Rio pode acreditar que não precisa de esquivar-se por entre os pingos da chuva, porque como os afluentes dos quais não lhe importam as descargas e porcaria que tragam a boiar, Rio vê na chuva apenas algo para lhe aumentar o caudal. Não lhe importa o dano que as cheias possam causar, nem a poluição que leve ao desaguar no mar salgado. Porque desse mar salgado, Rui Rio não quer saber das lágrimas que lhe deram o sal, nem das vidas que arrastou e devastou, tudo o que lhe interessa é a intensidade jactante do seu próprio caudal. E o resto, o resto é paisagem da qual ele não quer saber. Os restos e as migalhas ficam para o povo se entreter, desde que Rui Rio tenha o poder.

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Nasceu em Macedo de Cavaleiros, Coração do Nordeste Transmontano, em 1983, onde orgulhosamente reside. Licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas, publicou poemas e artigos na extinta fanzine “NU” e em blogues, antes de editar em 2015 o livro-objecto “Poesia Com Pota”. Português de Mal e acérrimo defensor da regionalização foi deputado municipal entre 2009-2013.
Este autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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