Sobre as duas faces de Rui Rio, ou, do greco-troiano cavalo que soube agradar a todo o mundo.

Rui Rio
Rui Rio

Rui Rio é um tipo esperto. Não há porque o negar. Demonstrou-o ganhando nome e destaque político enquanto, a seu bel-prazer, fazia da cidade do Porto o seu parque de diversões; e provou-o ganhando e, sob grande pressão que sacudiu como caspa dos ombros, mantendo a liderança do seu partido. Agora que já dei ares de saber do que falo, posso pegar no assunto que realmente me leva a falar do líder do PSD. Aos órgãos de comunicação social, Rio, guicho – sabendo perfeitamente que estas seriam as palavras que o povo haveria de ler, escutar e debater – mostrou-se responsável e social-democrata, sensibilizado com as responsabilidades de quem muito tem, porque, com a sua conivência, ao povo muito tirou. Arengou, então, em quase indignada arola, o seu aqui d’El-Rei, se a banca ousasse presentear-se com os lucros esmifrados aos pobres. E recebeu aplausos.

Quando no parlamento em acção se lhe pedia que cumprisse com essa sua encontrada social-democracia, que se indignava contra os chupistas, que às custas da grei engordam fartos e cevados, Rui Rio e o seu PSD, ao lado do PS que também não gosta de abusar do socialismo que traz no nome, deitou por terra a indignação com que tirou aplausos ao povo, para os colher da banca e dos patrões. Rui Rio é um chico-esperto, um digno cavalo greco-troiano que soube agradar nos momentos e sítios certos a ambas as partes. Cuspiu nos dois pratos e ao mesmo tempo cuspiu para o ar, no fim a fava calhou, na mesma, só no prato do mexilhão, o patrão agradeceu e Rio sorriu triunfante. E recebeu aplausos.

Rui Rio é um tipo esperto. Mostrou o seu lado sensível falando da altura que não era adequada para fazer jogadas políticas, mostrando razoabilidade como líder da oposição, para depois fazer um brilharete de jogada de campanha política, saindo bem visto por cada parte, mas reservando sempre o prémio para a mesma, repetindo-se, outra vez mais, os mesmos favorecimentos, para os mesmos favorecidos. Rui Rio é um chico-esperto. Na defesa da sua agenda política o PSD votou favorável aos interesses da banca e dos patrões, depois de ter tocado a sensibilidade do povo; seria ao PS que se exigia a responsabilidade de ser da Esquerda, em que se afirma posicionar-se, e impedir que a afronta aos dignos trabalhadores seja cometida com a cumplicidade da lei, mas isso não é do interesse da bancada Socialista que com a mesma mão que ajuda a levantar dá a lambada que nos atira ao chão.

Rui Rio é um chico-esperto e um homem inteligente, não tenho dúvidas; essas restam-me em se será um Homem decente.

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Nasceu em Macedo de Cavaleiros, Coração do Nordeste Transmontano, em 1983, onde orgulhosamente reside. Licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas, publicou poemas e artigos na extinta fanzine “NU” e em blogues, antes de editar em 2015 o livro-objecto “Poesia Com Pota”. Português de Mal e acérrimo defensor da regionalização foi deputado municipal entre 2009-2013.
Este autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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