Parece impossível, mas estamos com cada vez menos transportes públicos

Foto por FelizJaz em Fickr

É inevitável, quando vivemos no interior, não falar frequentemente de transportes públicos. Não é de agora que se sabe que a oferta de transportes públicos é muito deficiente nestes territórios. Praticamente não existe ferrovia e não existe uma rede pública de transporte coletivo, mas neste momento a situação é dramática: o interior do país está praticamente sem transportes públicos.

A crise que vivemos veio arrasar com as já deficitárias alternativas. A maior parte dos concelhos ficou sem qualquer oferta que garantisse tanto as eventuais necessidades urgentes de transporte, como o transporte de todas as pessoas que mantiveram o país a funcionar, em todos os sectores da economia.

Após o fim do Estado de Emergência, em plena fase de ‘desconfinamento’, muitas pessoas que se encontravam em teletrabalho ou em regime de layoff regressam à rotina diária de trabalho, de procura dos serviços de atendimento público, ou mesmo da procura de emprego, deparam-se com uma realidade avassaladora. Na maior parte dos casos a oferta continua tão má ou inexistente como em pleno Estado de Emergência.

No concelho de Viseu, na concessão MUV, as linhas têm em média dois horários em cada sentido durante o dia, havendo mesmo sentidos com apenas um horário, quando antes da pandemia algumas destas linhas chegavam a mais de duas dezenas em cada sentido. Também se verificou, nalguns casos, a diminuição do tamanho dos veículos levando a casos de sobrelotação e às impossibilidade de manter distanciamento físico.

Relativamente às linhas entre concelhos, responsabilidades das várias Comunidades Inter Municipais, os horários encontram-se muito reduzidos para as concessões da União de Sátão & Aguiar da Beira, Berrelhas e Marques (Barraqueiro), sendo que não há informação na Central de Camionagem de Viseu sobre qualquer horário para a linhas antes garantidas pela Transdev (antiga Guedes).

A título de exemplo, pode ser referida uma denúncia que chegou à Comissão Coordenadora Distrital de Viseu do Bloco de Esquerda, de uma utente do Centro Hospitalar Tondela-Viseu que mora no concelho de São Pedro do Sul e que não tem qualquer transporte para as consultas programadas em Viseu ou mesmo para se deslocar dentro do concelho. Penalva do Castelo é outro caso em que nos chegaram relatos da falta de transportes, não tendo sido possíveis, por exemplo, deslocações até Viseu.

Na próxima semana, há estudantes do 11.º e do 12.º que vão retomar as aulas e ainda não sabem como se vão deslocar, estando alguns municípios a substituir os autocarros que serviam toda a população por carrinhas que apenas servem estes alunos.

A Comissão Coordenadora Distrital do Bloco de Esquerda lançou alerta sobre esta situação, nomeadamente para as diversas autarquias do distrito, com a exigência do restabelecimento urgente do transporte coletivo pré-pandemia e tendo em vista o melhoramento de todo o sistema de forma a respeitar as medidas de contenção da propagação da Covid-19.

Pensando de forma mais ampla, pode ser recuperado o que sempre foi válido: é essencial a aposta numa rede pública de transportes coletivos que seja eficiente e constitua uma verdadeira alternativa, respondendo assim à Crise Climática e à transição necessária para garantir o futuro do planeta e das gerações mais novas.

Carolina Gomes
Outros artigos deste autor >

Ativista. Formada em Antropologia. Deputada na Assembleia Municipal de Viseu pelo Bloco de Esquerda.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts
Madeira Queimada
Ler Mais

Que faremos quando tudo arder?

Ocorre-me frequentemente esta interrogação poética de Sá de Miranda que, mutatis mutandis, poderá ser enquadrada nas mais diversas…
Escola
Ler Mais

Ovelha ronhosa

Foto por Taylor Wilcox on UnsplashA autarquia de Viseu tem alimentado, ano após ano, o paradigma que assola…
Linha - Comboio - Mangualde
Ler Mais

Terra incógnita

Dez anos depois, voltámos a ter uma nova recessão. Já perdi a conta às crises cíclicas que vivi……
Skip to content