O glifosato é um herbicida potencialmente cancerígeno, mas continua a ser insistentemente utilizado por freguesias e câmaras um pouco por todo o lado. O glifosato foi declarado em 2015 pela Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro, da Organização Mundial de Saúde, como “carcinogéneo provável para o ser humano” e a sua utilização em espaços públicos, como hospitais, lares de idosos, escolas ou parques de campismo, é proibida em Portugal. A sua aplicação coloca em risco a saúde de pessoas e animais que frequentam os espaços. Os locais onde é utilizado tornam-se ecossistemas envenenados.
Apesar das recomendações da comunidade científica e das restrições da lei, as irregularidades são mais que muitas, aparentando até que a boa governação local se faz através da bem sucedida exterminação da erva daninha… Uma exterminação que se quer imediata e fatal, a qualquer custo e sem que se pondere sequer a busca de alternativas mais equilibradas para os ecossistemas, para os animais, para as pessoas e para o ambiente.
No concelho de Viseu, o Bloco de Esquerda tem desde 2015 denunciado a utilização deste produto na Assembleia Municipal e em Assembleias de Freguesia, mas também através de uma campanha, atualmente ainda a decorrer, de sinalização dos espaços em que é aplicado glifosato com um autocolante que diz “Envenenamento em Curso! STOP Glifosato”. Mas por esses lados estará por esta altura ainda a decorrer uma nova campanha de aplicação de produtos que contêm este herbicida. O mesmo na freguesia de Rio de Loba, onde nas últimas semanas um trator “se passeou” a espalhar o produto fitofarmacêutico Roundup Flex, que contém glifosato.
Um estudo levado a cabo pela Plataforma Transgénicos Fora recolheu e mandou analisar amostras de urina de 62 voluntários escolhidos aleatoriamente. Em julho de 2018, 44 apresentavam glifosato na urina. Em outubro todas as 62 amostras continham esse composto. Neste seguimento, em Carregal do Sal, o Bloco de Esquerda avançou com uma recomendação no sentido de incluir a análise à presença do pesticida glifosato na água destinada a consumo humano, nos mesmos moldes definidos para outros pesticidas, e tornar essa informação pública.
Outro caso de que o Bloco de Esquerda teve conhecimento e sobre os qual tomou posição, regista-se em Mangualde, onde a Câmara Municipal aplicou o produto fitofarmacêutico Touchdown Premium, que também contém glisofato, não cumprindo inteiramente as disposições do decreto-lei em causa (Decreto-Lei nº 35/2017), infringindo, nomeadamente, o dever de anunciar previamente a aplicação do produto.
Em São João de Areias, a Junta de Freguesia andou a aplicar o herbicida com glifosato em zonas sensíveis, como por exemplo em locais muito próximos de explorações agrícolas e pecuárias, mas também a menos de 10 metros de cursos de água. Mais exemplos, infelizmente, de práticas generalizadas.
Caberia ao poder autárquico promover políticas protetoras do ambiente e da saúde pública segundo o princípio ecológico da prevenção/precaução. Caberia também ao executivo adotar uma atitude pedagógica ativa quanto a boas práticas ambientais que não incluíssem o uso do denominado glisofato, pelo contrário, que promovessem a sua substituição integral por outros produtos, como o sal-gema, e por outras práticas, como o uso de mondas térmicas e mecânicas e a reconfiguração sistemática de alguns espaços públicos.
Tristemente, são ainda demasiados os casos em que o papel que poderia ser se proteção do ambiente, da saúde pública e de atitude pedagógica ativa, é ignorado em nome do implacável extermínio da erva daninha.
Crónica gravada para a Emissora das Beiras
Ativista. Formada em Antropologia. Deputada na Assembleia Municipal de Viseu pelo Bloco de Esquerda.