Bem sei que os candidatos se (auto)produzem e que essa (auto)produção é decisiva para os resultados eleitorais dos partidos que representam, principalmente em tratando-se dos seus líderes nacionais, mas ainda não consegui descortinar a vantagem da personalidade política que a máquina eleitoral do PS descobriu ou assentou em Pedro Nuno Santos, esse “fazedor” que não “arrasta os pés”, que promete “ação”, que não tem medo de decidir, que apenas pede para que o deixem trabalhar. E não é só a vocação empreendedora, de homem da indústria, que arrisca confundir o ato de governar com a gestão empresarial, equiparando o cargo político de primeiro-ministro à função executiva de um CEO de uma grande empresa; ou o distanciamento que por essa via fundamenta entre os governantes, os fazedores, os ativos, e os governados, os “utentes”, os passivos, fazendo da máquina do Estado uma coutada do seu “Príncipe”. É também o facto de para o líder do PS se apresentar segundo os epítetos que para si mesmo reclama precisa de dar ares de que está sempre a fazer alguma coisa, que está sempre a meio caminho de qualquer coisa que nós (espectadores do seu caráter frenético) na verdade nunca sabemos exatamente o quê; e para dar essa imagem de hiperatividade, antes de mais tem sempre de anunciar o que vai fazer antes mesmo de ter feito o que quer que seja. E como nunca vence a distância (antes dela se alimenta) entre aquilo que promete fazer e aquilo que realmente faz a perceção que se cria à sua volta é a de que na verdade não passa de um “fala-barato”, que fala muito para aquilo que realmente faz. O líder do PS, com o carisma que para si mesmo criou, não consegue livrar-se da ameaça de ser sentenciado como uma desilusão, e, na verdade, toda a sua aura está sombreada pelo espectro da desilusão. Pensemos só que aquele que pretende “pôr as mãos à obra” não precisa de estar constantemente a anunciar que vai “pôr as mãos à obra”; ou “põe as mãos à obra” ou não põe, a sua reputação é indissociável da sua prática. Ele decide, não diz que vai decidir para depois então decidir. É que ao pretender dar uma imagem pragmática de si, prenhe de “virilidade” e “decisionismo”, acaba por ter o efeito perverso, contrário, de transmitir a ideia de alguém que “põe a carroça à frente dos bois”; que no seu afã de “concretizar”, de “mostrar obra” como qualquer vulgar presidente de câmara ou de junta de freguesia, acaba por “dar passos maiores do que a perna” ou revelar-se como um autêntico “trapalhão”, ou, pior ainda, alguém que “rouba, mas faz”…
Nasce em 1986 e habita nesse território geográfico e imaginário que é o Interior. Cresce em Viseu e faz a sua formação universitária na Covilhã, cresce tendo a Serra da Estrela como pano de fundo. As suas áreas de interesse académico são a filosofia, a política e a literatura. Actualmente está a terminar um doutoramento em filosofia.