Imagem & Revolução: 45 Anos de Abril – Ciclo Abril Sempre

Antes, durante e depois de Abril.

O 25 de abril deu-se há 45 anos. As suas memórias, os seus ideais, as suas promessas, tudo isso continua a ser recordado pelo cinema português do século XXI. A revolução não foi esquecida, as feridas da ditadura ainda não sararam por completo. Abril Sempre!

“48” (2010)

Susana Sousa Dias mergulha no arquivo da PIDE/DGS e revela cenas horrorosas que devem ser conhecidas e denunciadas. Apenas através de imagens, mais especificamente de imagens fixas, de fotografias tipo pass de reclusos, a realizadora conseguiu contar uma história sobre o regime ditatorial português, que durou 48 anos.

É pela fotografia filmada que Susana Sousa Dias questiona “o que pode uma fotografia de um rosto revelar sobre um sistema político? o que pode uma imagem tirada há mais de 35 anos dizer sobre a nossa atualidade?”.

É-nos fixado o olhar dos presos e aquilo que a fotografia não consegue dizer, diz-nos o cinema, com recurso ao som, neste caso, as vozes dos reclusos. A realizadora entrevistou vários presos políticos e é através dos seus testemunhos que ficamos a conhecer as suas histórias. Sempre num grande plano, sobre um grande plano.

Imagem e memória é o que nos é proposto também aqui visitar. Um filme pesado, não pela forma como é construído, mas sim pelo conteúdo, pelos testemunhos e experiências terríveis de tortura. Um filme ousado e rigoroso que deveria ser passado nas aulas de História.

“Capitães de Abril” (2000)

A única ficção, ou pelo menos a mais evidente, que é aqui proposta. “Capitães de Abril” foi a segunda e, até hoje, a última longa-metragem realizada pela atriz Maria de Medeiros. Este é até ao momento o primeiro filme a tentar reconstruir os acontecimentos da Revolução dos Cravos. 

Já tinham sido feitas algumas tentativas de recriar os acontecimentos do golpe que levaram ao 25 de abril, mas nunca de uma forma séria e justa. Maria de Medeiros faz mais do que um filme de época, mais do que uma reconstituição histórica. O processo revolucionário é bem captado pela sua câmara.

Não é uma obra-prima, mas é um grande filme que homenageia aqueles homens e mulheres que tiveram um papel importante na noite de 24 para 25 de abril. Consegue humanizar a personagem Salgueiro Maia, figura essa tantas vezes esquecida pelo povo, mas que neste filme é um dos protagonistas, tal como o foi na revolução dos cravos.

Uma grande produção, com uma vasta equipa técnica e vários atores portugueses e estrangeiros, “Capitães de Abril” teve uma co-produção com França, Itália e Espanha e foi um êxito internacional.

“Linha Vermelha” (2011)

Um dos melhores documentários portugueses, “Linha Vermelha” de José Filipe Costa, é um filme que nos recorda um passado relativamente recente e muitas vezes esquecido, o Verão Quente de 75, revisitando os locais da ação e aos seus protagonistas. Mas é sobretudo um documentário fascinante sobre o poder da imagem.

O filme do Costa é narrado pelo próprio, quase como uma carta de despedida a Harlan, que faleceu em 2010 e Costa teve a oportunidade de o entrevistar. É com este filme que vamos compreender ao pormenor o filme “Torre Bela” e as intenções e o método de trabalho de Thomas Harlan. Ele tenta perceber de que maneira Harlan interveio nos acontecimentos que parecem desenrolar-se naturalmente frente à câmara. É através de entrevistas com membros da equipa de “Torre Bela” que entendemos o processo de filmagem deste filme. Mas “Linha Vermelha” consegue ser muito mais do que isso. José Costa fala-nos do PREC e fala-nos do próprio cinema.

Mais do que um filme sobre o reviver de “Torre Bela”, “Linha Vermelha” é um estudo sobre o poder da imagem, sobre a força do cinema e como essa molda uma sociedade. Este é apenas um pequeno exemplo daquilo que foi uma grande revolução. Um filme obrigatório para todos, inclusive aqueles que queiram estudar cinema.

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Se disséssemos que éramos um bando de miúdos, um tanto sonhadores, que queriam fundar um site para escrever sobre cinema e que, por algum desígnio divino, pudéssemos fazer da vida isto de escrever sobre a sétima arte, seria isso possível? A resposta é óbvia: dificilmente. Todavia Isso não impediu o bando de criá-lo em 2008, ano da fundação do Cinema Sétima Arte. O espírito do western tinha-se entranhado em nós…
“A atividade crítica tem três funções principais: informar, avaliar, promover”. É desta forma que pretendemos estimular o debate pelo cinema.
Acima de tudo, escreveremos sempre como cinéfilos, esses sonhadores enamorados da sétima arte.
www.cinema7arte.com

Portuense mas reside em Viseu desde 2015 e é apaixonado por cinema e política. É administrador do site Cinema Sétima Arte, programador de cinema no espaço Carmo 81 e fez parte da equipa que reabriu o Cinema Ícaro, em Viseu, com o Desobedoc 2018. É ativista na Plataforma Já Marchavas, que organizou a 1.ª Marcha LGBTI+ de Viseu, em 2018.

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