No contexto das comemorações do 46.º aniversário da Revolução de Abril, a Medeia Filmes, em programa especial extra da sua “Quarentena Cinéfila”, vai disponibilizar no seu website oficial, das 9h do dia 1 de maio (sexta) até às 24h dia 3 (domingo), “um dos mais fabulosos documentários da história do cinema”, como afirmou Paulo Branco, que o estreou em sala, em 1979 em França, e em 2007, em Portugal.
“Em Abril de 1975, camponeses sem terra e sem trabalho, muitos deles analfabetos, desamparados, ocuparam a herdade da Torre Bela e aí constituíram uma cooperativa. O realizador alemão Thomas Harlan filmou a ocupação, ao longo de 8 meses. Filmou, num dos mais emocionantes momentos deste documento único, a celebração da liberdade ao som de ‘Grândola, Vila Morena’, hino da revolução, interpretado pelo seu criador, Zeca Afonso, por Francisco Fanhais e Vitorino, por Camilo Mortágua, e pelas centenas de homens, mulheres e crianças que ali se juntaram, apoiando a ocupação espontânea da Herdade da Torre Bela. Torre Bela, o filme, é um dos mais notáveis documentários feitos em Portugal e na Europa, de valor inestimável e universal.”
Thomas Harlan e a sua equipa filmam, durante oito meses, na Torre Bela, o processo de ocupação de uma herdade pelo povo local. Deste modo dá-nos a conhecer o que foi realmente o PREC (Processo Revolucionário em Curso) e o que se perdeu e o que se ganhou.
Harlan filma longas discussões entre os trabalhadores; o palácio do duque de Lafões a ser ocupado, tal como a sua herdade; uma discussão sobre a quem pertence uma enxada; reuniões em praça pública onde todos falam ao mesmo tempo e ninguém se entende. Tudo isto aconteceu mesmo. Foi real. Ou será que não foi? Será que tudo isto aconteceu na realidade? Terá Harlan interferido na ação dos acontecimentos, para contar a sua própria história? Tudo isto aconteceu, mas as imagens de Harlan interpretam à sua maneira esses acontecimentos. É legitimo. O cinema é e sempre foi uma interpretação da realidade. Poderemos falar de “cinema-verdade”. Mas o que é a verdade? Não há duvida que Harlen tentou intervir nos acontecimentos.
Este é um documentário antropológico bastante controverso que nos questiona se o realizador deve ou não intervir nos acontecimentos que estão a ser filmados pela câmara, como aconteceu com Thomas Harlan neste filme. “Torre Bela” é ainda hoje um objeto de estudo fascinante sobre o poder da imagem e sobre o Portugal do pós-25 de Abril.
Em 2011 estreou o documentário “Linha Vermelha”, de José Filipe Costa, que revisita e ajuda a compreender ao pormenor o filme “Torre Bela” e as intenções e o método de trabalho de Thomas Harlan.