UM ANO SEM AGNÈS VARDA, MAS COM UM LEGADO IMPRESCINDÍVEL

Foto retirada de Cinema Sétima Arte
Faz hoje um ano que morreu a cineasta belga Agnès Varda, a 29 de março de 2019, aos 90 anos, um dos nomes maiores do cinema mundial e a única mulher realizadora a integrar a nouvelle vague.

Mulher, feminista, artista e fotógrafa, o seu cinema é distinto e pioneiro. Curiosa e grande contadora de histórias, é autora de algumas obras-primas, entre ficções, documentários e  criativos ensaios poéticos, tais como: “Cléo de 5 à 7” (1962), “Daguerreótipos” (1975), “L’Une Chante, l’Autre Pas” (1977), “Sem Eira Nem Beira” (1985), “Jacquot de Nantes” (1991), “As Praias de Agnès” (2008) e “Olhares, Lugares” (2017). Varda recebeu importantes galardões internacionais pelo seu notável trabalho como realizadora: a Palma de Ouro de carreira no Festival de Cannes 2015, Urso de Prata da Berlinale (1964), Leão de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Veneza (1985), dois Prémios César (1984 e 2009), o Prémio do Cinema Europeu (2001) e o Óscar Honorário (2018).

Varda deixou-nos uma obra imensa, inspiradora, original, com muitas imagens e histórias de vida. Varda não se limitava a ficar atrás da câmara, colocando-se permanentemente à sua frente. Filmou-se a si e aos outros (muitos rostos) e filmou o próprio cinema. Sempre com humor e emoção, Varda partilhou a sua vida.

Um ano sem Agnés Varda é um tempo de histórias que ficam por contar, de fotografias que ficaram por revelar. Para assinalar a data da sua morte e para que a sua obra continue a ser (re)vista, sugerimos cinco filmes para ver na plataforma de streaming Filmin:

As Praias d’Agnès (2008)

Ao regressar às praias que marcaram a sua vida, Agnès Varda inventa uma forma de autodocumentário. Agnès coloca-se em cena entre os excertos dos seus filmes, imagens e reportagens. Faz-nos partilhar com humor e emoção o seu percurso, os primeiros passos como fotógrafa de teatro, cineasta nos anos cinquenta, a vida com Jacques Demy, a sua militância feminista, as viagens a Cuba, à China e aos EUA, o percurso de produtora independente, a sua vida em família e o amor das praias.

Olhares Lugares (2017)

Agnès Varda, cineasta cuja visão e trabalho únicos lhe granjearam incontáveis fãs no mundo inteiro desde os anos 50 e JR, o icónico fotógrafo e muralista, com mais de um milhão de seguidores no Instagram, têm mais em comum do que se possa imaginar.  Ambos partilham uma vida apaixonada pelas imagens e como elas são criadas, exibidas e partilhadas. Agnès escolheu explorar a sua paixão através do cinema e do documentário, enquanto JR o faz nas suas emocionantes instalações fotográficas ao ar livre.  Quando JR, um fã de longa data, encontra Agnès na sua casa na rua Daguerre, percebem de imediato que tinham de trabalhar juntos. “Olhares Lugares” documenta essa viagem calorosa através da França rural e a amizade terna que se forja durante o caminho.

Os Respigadores e a Respigadora (1999)

A partir de um célebre quadro de Millet, o filme de Agnès Varda é um olhar sobre a persistência na sociedade contemporânea dos respigadores, aqueles que vivem da recuperação de coisas (detritos, sobras) que os outros não querem ou deixam para trás. A respigadora, nesse sentido, é Agnès Varda, que, experimentando pela primeira vez uma pequena câmara digital, se quer assumir como uma “recuperadora” das imagens que os outros não querem ver nem fazer e que, portanto, deixam para trás.

Daguerreótipos (1975)

Nas palavras de Varda, “Daguerreótipos não é um filme sobre a Rue Daguerre, uma rua pitoresca no 14.º bairro em Paris onde morei, mas um filme sobre um quarteirão dessa rua, entre os números 70 e 90.  Não é um inquérito nem um estudo sociológico dos seus habitantes.”

Sete Curtas-Metragens Agnès Varda

A ÓPERA MOUFFE (1958, 16’) SAUDAÇÃO AOS CUBANOS (1962-63, 28’) TIO YANCO (1967, 18’)  BLACK PANTHERS (1968, 27’)  RESPOSTAS DE MULHERES (1975, 8’)  ULISSES (1982, 21’)  AS SUPOSTAS CARIÁTIDES (1984, 12’)

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Se disséssemos que éramos um bando de miúdos, um tanto sonhadores, que queriam fundar um site para escrever sobre cinema e que, por algum desígnio divino, pudéssemos fazer da vida isto de escrever sobre a sétima arte, seria isso possível? A resposta é óbvia: dificilmente. Todavia Isso não impediu o bando de criá-lo em 2008, ano da fundação do Cinema Sétima Arte. O espírito do western tinha-se entranhado em nós…
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Portuense mas reside em Viseu desde 2015 e é apaixonado por cinema e política. É administrador do site Cinema Sétima Arte, programador de cinema no espaço Carmo 81 e fez parte da equipa que reabriu o Cinema Ícaro, em Viseu, com o Desobedoc 2018. É ativista na Plataforma Já Marchavas, que organizou a 1.ª Marcha LGBTI+ de Viseu, em 2018.

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