Há 100 anos estreava a primeira longa-metragem de Charlie Chaplin, “O Garoto” (“The Kid”), a 21 de janeiro de 1921 no Carnegie Hall em Nova Iorque. 2021 marca o 100.º aniversário de uma das obras-primas de Chaplin (1889-1977) e uma das mais importantes da história do cinema.
“Há algum tempo que queria fazer o que é, pelo menos para mim, uma imagem séria, uma fotografia com ironia por trás dos incidentes incongruentes e cómicos, inspirando piedade sob os seus aspectos ridículos, com uma sensação de sátira subjacente à mais ampla bufoneria.”, disse Charlie Chaplin à Vanity Fair, em janeiro de 1921.
“O garoto viverá quando outras fotos morrerem. O seu pathos é universal no seu apelo. O seu humor é clássico. Chaplin é um humanitário. Ele compreende os corações dos irresponsáveis, das crianças e das falhas do mundo. As alegrias de The Kid não podem ser catalogadas, elas devem ser vistas.”, escreveu o jornal Morning Telegraph, em fevereiro de 1921
Foi nos estúdios da First National que Chaplin realizou “O Garoto de Charlot” (1921), o seu filme mais pessoal, fortemente inspirado na sua infância miserável, nas ruas de Londres. Em “O Garoto de Charlot”, Charlot toma conta de uma criança abandonada (interpretado por Jackie Coogan), mas a sua relação fica em risco, quando a mãe tenta recuperar a criança e o orfanato tenta tirar-lhe a criança.
“O Garoto de Charlot” é a sua primeira grande obra-prima, a sua estreia na longa-metragem, o seu filme mais emotivo. É também um dos primeiros filmes onde se mistura a comédia e o drama, como, aliás, é dito na abertura do filme: “Um filme com um sorriso, e talvez uma lágrima…”. Este é de longe, de toda a sua obra, o seu filme mais sentimental.
A Banda Sonora, composta por Chaplin, é muito importante neste filme. Chaplin baseou-se na 6.ª Sinfonia de Pyotr Ilyich Tchaikovsky para criar a banda sonora e essa destaca-se sobretudo na cena mais dramática do filme, quando a criança é levada por dois homens que o levam para o orfanato. Chaplin impede que isso aconteça, lutando com os dois homens.
Jackie Coogan, aos 7 anos, tornou-se numa celebridade mundial, homenageada por príncipes, presidentes e pelo Papa. Mas teve uma carreira muito curta no cinema como ator infantil, dado que aos 13 anos encontrava-se como um jovem adulto sem dinheiro. Os seus pais haviam gerido mal os ganhos da sua infância, tendo gasto todo o seu dinheiro. Chaplin chegou a dar a Coogan apoio financeiro.
O seu caso deu assim origem à famosa “Lei Coogan”, California Child Actor’s Bill, que passaria a proteger financeiramente as crianças que trabalhassem no cinema, e ainda garantia que mantinham os seus estudos e com direito a folgas do trabalho.
Passados 100 anos após a sua estreia, este continua a ser um dos mais bonitos filmes sobre a infância, uma comédia dramática de referência no cinema.
Artigo publicado em Cinema 7 Arte.