Marisa Matias – por uma presidência de uma esquerda com futuro

Foto de Ana Mendes
Compreendo quem de esquerda não se revê nas promessas de unidade nacional revestidas na defesa de um espírito constitucional em que a letra não coincide com o real ou com a verdade. Mesmo quando essa nostalgia de unidade se confunde na unidade da classe trabalhadora com todas as suas representações tantas vezes sintetizadas na heteronormatividade do homem branco trabalhador. Compreendo também que a essa multitude não a seduza particularmente a ladainha da soberania nacional e do desenvolvimento centralizado numa mão cheia de instituições.

Percebo também quem de esquerda não se revê numa candidata da designada esquerda liberal. Não chega levantar as bandeiras da corrupção e da inclusão social sem uma visão sistêmica sobre as dinâmicas económicas e sociais. Não basta, enfim, combater as más práticas do mercado, ajustar as relações entre o capital e o trabalho, ou defender os direitos e as causas progressistas. Não chega a ementa da esquerda liberal quando a solução dos problemas de que dependem as causas progressistas não estão na boa regulação e articulação das instituições da república, nem na ética dos cidadãos desta república, mas de toda uma praxis de alteração profunda de paradigma que coincide com a superação do capitalismo e da sua gestão supra e infra-institucional.

Com todo o respeito pelos candidatos acima descritos compreendo que a única candidatura na qual se podem rever os que procuram um país livre como território de múltiplas pertenças e partilhas seja a de Marisa Matias . É a promessa do vermelho em Belém que serve de sustentação para a defesa de todo o arco-íris. A terra da liberdade e da igualdade não se alcança pelo relativizar do direito à autodeterminação de todos e de cada um a prejuízo da igualdade; nem se materializa sem colocar em causa o sistema capitalista a partir do qual se estruturam todas as assimetrias e desigualdades.

Por estas e por outras razões, e porque a candidatura de Marisa Matias não é apenas uma candidatura da continuidade do Estado e suas instituições, nem apenas um punhado de causas sem respaldo material que as sustente de forma igualitária, é que voto Marisa. Por um país sem fronteiras em que há lugar para todos e todas e em que a prática da igualdade e da liberdade se transformam em praxis anticapitalista.
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Nasce em 1986 e habita nesse território geográfico e imaginário que é o Interior. Cresce em Viseu e faz a sua formação universitária na Covilhã, cresce tendo a Serra da Estrela como pano de fundo. As suas áreas de interesse académico são a filosofia, a política e a literatura. Actualmente está a terminar um doutoramento em filosofia.

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