O recente ataque ao líder da AD com tinta verde acrescenta mais uma acha a um clima que está tudo menos favorável ao regime democrático e liberal. O problema não é o de assinalar os limites da democracia burguesa ou parlamentar ou constitucional na enésima reformulação de uma vaga ideia de teoria crítica; o problema é a ausência de uma resposta democrática a esses mesmos limites. Não se pretendendo responder à falta de democracia com mais democracia (ou mesmo com outra democracia) mas com o exacerbar do tom das declarações de guerra. O ambiente político está de tal forma polarizado, tanto entre partidos (instituições) como no seio da denominada “sociedade civil”, que o regime parece viver em constante estado de stress, provocado por forças cuja solução política assenta no desmantelamento do dito regime, isto é, da democracia tal qual a conhecemos e agora que nos preparamos para celebrar os cinquenta anos do 25 de abril. E o ponto não é, como já o escrevi, o reconhecer os limites constitutivos da democracia construída a partir do 74; a questão é que se pretende superar as suas contradições e aporias não a partir de uma outra noção e movimento democrático, mas a partir de uma espécie de pulsão para a rutura que não apresenta outra solução para o estado de crise permanente em que vivemos senão a guerra civil. E o tempo da emergência nunca coincide ou converge com o tempo da democracia, mesmo sendo esta uma democracia “real” ou proletária. Não se trata, portanto, de repetir esse lugar-comum que postula que o poder tem horror ao vazio, que precisa sempre de ser ocupado, mas que face ao “horror” das insuficiências (estruturais) da democracia burguesa para responder aos maiores problemas da nossa época não nos sobra mais do que o esvaziamento de uma alternativa também ela democrática. Enfim, e como diz a sabedoria popular, cuidado para não tirarmos o bebé juntamente com a água do banho.
Nasce em 1986 e habita nesse território geográfico e imaginário que é o Interior. Cresce em Viseu e faz a sua formação universitária na Covilhã, cresce tendo a Serra da Estrela como pano de fundo. As suas áreas de interesse académico são a filosofia, a política e a literatura. Actualmente está a terminar um doutoramento em filosofia.