25 de abril ou a pátria das mulheres e dos homens livres

O 25 de abril é talvez o nosso feriado civil mais importante, quer dizer, principalmente para o nosso “povo de esquerda” ou, de forma mais ampla, para aqueles que se recusam a aceitar as virtudes do regime fascista ou um qualquer retorno a uma situação política antes da instituição da democracia (apesar dos seus muitíssimos limites sociais, económicos e políticos, e de tudo o que esta deixou por cumprir).
25 de Abril de 1974
25 de Abril de 1974. Estúdio Horácio Novais | Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian | Flickr (CC BY-NC-ND 2.0)

O 25 de abril representa o tecido emocional e afetivo da nossa comunidade nacional mas de uma forma contrária ao nacionalismo e isso só pode aborrecer profundamente os conservadores e fascistas de hoje. Afinal podemos nos orgulhar de sermos portugueses sem necessitarmos de glorificar o nosso passado colonial ou sem precisarmos de abraçar uma qualquer mitologia racista, de “superioridade nacional”.

O 25 de abril tem esse condão de ser um feriado incontornavelmente nacional que faz reconhecer a pertença a uma comunidade nacional concreta, a uma certa condição de ser português, mas que não é propriamente uma celebração patriótica no sentido fechado do termo. O que se celebra no 25 de abril não é tanto a história da nação ou da pátria em oposição a todas as outras nações e pátrias do mundo quanto um momento particular de rutura histórica em direção à liberdade. O que há de excecional e de inspirador na celebração desta data é que ela visa sempre relembrar que um outro projeto nacional é possível, que outro Portugal é sempre possível, mesmo contra todo o peso simbólico e concreto da história coletiva. O que se celebra no 25 não é tanto a continuidade quanto a rutura, a possibilidade inscrita na vontade coletiva de refazermos o tal “dia inicial inteiro e limpo”.

Não é Portugal como imagem fixa e estanque que o 25 de abril celebra, mas a ideia mesma de vivermos livremente com os nossos concidadãos – os quais podem nem sequer ser portugueses. A pátria do 25 de abril não é a pátria de uma qualquer ideia de Portugal ou de portugalidade, mas a pátria dos homens e das mulheres livres, dos e das que desejam ser livres e defender essa mesma liberdade, e isso não pode deixar de incomodar profundamente quem deseja o poder ou o pretende preservar contra a liberdade dos outros e das outras.

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Nasce em 1986 e habita nesse território geográfico e imaginário que é o Interior. Cresce em Viseu e faz a sua formação universitária na Covilhã, cresce tendo a Serra da Estrela como pano de fundo. As suas áreas de interesse académico são a filosofia, a política e a literatura. Actualmente está a terminar um doutoramento em filosofia.

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