Projeto vai criar rede de espécies-sentinelas para combater uso ilegal de veneno em Portugal

A Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural vai implementar o projeto ‘SentinelaS – marcação e seguimento de grifos Gyps fulvus como ferramenta de combate ao uso ilegal de venenos em Portugal’, o qual foi aprovado e é financiado pelo Fundo Ambiental – Ministério do Ambiente e da Transição Energética. Este projeto é realizado em territórios da Rede Natura 2000, em parceria com a Universidade de Oviedo (Espanha). O grifo será a primeira espécie-sentinela da rede de espécies-sentinelas que a associação pretende criar para combater ameaças à biodiversidade e aos ecossistemas em Portugal.


Grifo (Gyps fulvus) | Fotografia Hugo Marques
O projeto terá um website www.sentinelas.pt (estará disponível brevemente), e está já presente nas redes sociais Facebook e Twitter .

O projeto Sentinelas tem como principal objetivo criar uma rede de sentinelas através da marcação, com dispositivos GPS e anilhas, de exemplares de grifo que possibilite obter informação sobre o uso ilegal de venenos no norte de Portugal, o qual representa um sério problema para a conservação da biodiversidade, dos ecossistemas e para a saúde pública. Numa primeira fase, serão marcados 15 indivíduos.

Este sistema permitirá obter dados sobre a mortalidade por envenenamento e sobre a distribuição espácio-temporal do risco/exposição aos venenos para espécies necrófagas. Adicionalmente, o projeto contribuirá para avaliar outras ameaças para as aves necrófagas, tais como mortalidade e risco de colisão com linhas elétricas e/ou aerogeradores em parques eólicos, e também obter informação sobre a disponibilidade de alimento no campo para estas espécies, nomeadamente cadáveres de ungulados, em geral, e daqueles procedentes das atividades pecuárias extensivas em particular, os quais são fundamentais para a manutenção e conservação das suas populações. Além disto, poderá ser obtida informação adicional sobre potenciais conflitos entre algumas atividades humanas tradicionais, como a caça ou a pecuária, e a fauna silvestre nas zonas de implementação do projeto.

Toda a informação gerada por esta rede será uma mais valia e contribuirá para melhorar o estado de conservação do património natural e da biodiversidade em Portugal, em particular das aves necrófagas e também de alguns mamíferos carnívoros protegidos, tais como o lobo.

Grifo (Gyps fulvus) | Fotografia Hugo Marques
Tendo em conta que o uso de venenos está intrinsecamente associado a uma forte componente social, o projeto contará também com uma abordagem de educação e sensibilização ambiental das comunidades locais nos concelhos da sua área de implementação, através do desenvolvimento de sessões dirigidas ao público escolar e geral e a setores e grupos de interesse específicos (caçadores, agricultores, criadores pecuários, etc.), com o objetivo de os sensibilizar para o perigo do uso de venenos, quer para a saúde pública, quer para os animais domésticos, fauna silvestre e ecossistemas, e para a importância ecológica das aves necrófagas. Pretende-se, assim, através desta abordagem, que a população possa interiorizar e compreender os valores naturais e a relevância da biodiversidade para o bem-estar comum e sustentabilidade da vida no planeta. O teatro em comunidade também será usado como ferramenta pedagógica, mobilizadora e transformadora de mentalidades durante as sessões de sensibilização e educação ambiental.

A rede de grifos-sentinelas marcados será implementada em quatro Zonas de Proteção Especial (ZPE) situadas no norte do país, nomeadamente nas ZPE “Serra do Gerês” (PTZPE0002), “Montesinho/Nogueira” (PTZPE0003), “Rios Sabor e Maçãs” (PTZPE0037) e “Douro Internacional e Vale do Águeda” (PTZPE0038), áreas da Rede Natura 2000 onde existem importantes populações de aves necrófagas. Todos estes territórios estão também inseridos em Sítios de Importância Comunitária (SIC) da Rede Natura 2000, sendo que dois deles coincidem ainda com Parques Naturais, no caso de Montesinho e do Douro Internacional, e um com Parque Nacional, no caso da Peneda-Gerês.

Nestas áreas, existe um elevado risco de uso de venenos devido a potenciais conflitos com a fauna silvestre, em particular porque são zonas onde se pratica pastoreio extensivo e onde o lobo está presente e/ou porque são territórios com zonas de caça e com presença de mesocarnívoros predadores, tais como a raposa e alguns mustelídeos e viverrídeos, e aves de rapina.

Pretende-se que as referidas ZPE funcionem como áreas-piloto a nível nacional e que este sistema possa ser, posteriormente, alargado a outras zonas do país problemáticas relativamente à incidência do uso de venenos. Esta poderá ser também uma ferramenta importante e complementar ao Programa Antídoto-Portugal, o qual foi recentemente reativado, promovendo e fortalecendo, assim, a cooperação entre entidades para combater o problema do uso ilegal de venenos a nível nacional.

Tendo como foco um trabalho em rede, este projeto visa, desta forma, reforçar parcerias e promover a articulação entre as várias entidades que se dedicam a esta problemática, procurando assegurar uma maior partilha de informação e uma ação mais abrangente e integrada.

Este projeto também permitirá que Portugal fique cada vez mais alinhado com a tendência que a União Europeia pretende estabelecer, no sentido de que exista uma maior coordenação entre os Estados membros para combater este e outro tipo de crimes ambientais.

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A Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 2000, que tem como missão conservar a biodiversidade, os ecossistemas selvagens, florestais e agrícolas e preservar o património rural edificado, bem como as técnicas tradicionais de construção. A associação, que atua orientada por uma abordagem pedagógica e de cooperação, promove também a investigação científica nas áreas da Ecologia, Biologia da Conservação e Gestão de Ecossistemas, a educação ambiental, o desenvolvimento das comunidades e a dinamização do mundo rural.

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