A deusa-abutre “Senhora do Céu Meridional” e os grifos-sentinelas protetores da fauna selvagem

Em muitos países e culturas, os abutres estão associados a imagens, expressões e pensamentos com conotação negativa. Mas também há quem dê a justa valorização a este grupo especial de aves fundamental para o equilíbrio dos ecossistemas, já que os abutres são os agentes sanitários da natureza, assegurando a limpeza da matéria morta no meio natural.
Na Mitologia Egípcia, a divindade protetora do Alto Egito e da realeza, denominada Nekhebet, surge representada na iconografia egípcia como uma mulher-abutre ou, mais frequentemente, como um abutre usando a coroa hedjet (símbolo do Alto Egito), representação alada ideal para uma deusa que se considerava a “Senhora do Céu Meridional”, refere José das Candeias Sales, no artigo “A Metalinguagem Religiosa: As Aves como Metáforas e Símbolos na Mitologia Egípcia” publicado na Revista Lusófona de Ciência das Religiões. Iconograficamente, esta deusa-abutre é habitualmente representada de asas abertas, sinal de proteção (do rei e/ou do Egito), agarrando símbolos da eternidade com as suas garras. Os abutres associados a Nekhebet eram o Gyps fulvus, o grifo, e o Torgos tracheliotus, o abutre-real, também conhecido por abutre-torgo ou abutre núbio.
Os grifos-sentinelas do projeto Sentinelas – Rede de Monitorização de Ameaças para a Fauna Silvestre não são deuses, mas, tal como a deusa Nekhebet, cumprem uma missão de proteção muito importante: detetam ameaças para a fauna silvestre relacionadas com o furtivismo, como o uso ilegal de venenos, o abate a tiro e o uso de armadilhas, permitindo ainda detetar casos de colisão das aves contra estruturas humanas, bem como avaliar elementos como a disponibilidade de alimento e a intoxicação por contaminantes. Contribuem, desta forma, para assegurar a proteção da fauna selvagem.
Apresentamos alguns deles: Almocreve, Azenhas, Arco, Alba, Arcal, Brida e Castelo.
Saiba mais sobre o projeto Sentinelas em www.sentinelas.pt
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A Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 2000, que tem como missão conservar a biodiversidade, os ecossistemas selvagens, florestais e agrícolas e preservar o património rural edificado, bem como as técnicas tradicionais de construção. A associação, que atua orientada por uma abordagem pedagógica e de cooperação, promove também a investigação científica nas áreas da Ecologia, Biologia da Conservação e Gestão de Ecossistemas, a educação ambiental, o desenvolvimento das comunidades e a dinamização do mundo rural.

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